Folha de S. Paulo


Ladrões guincham bancas de jornal com tudo dentro na zona leste de SP

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Dois casos semelhantes de roubo de bancas de jornal chamaram a atenção de policiais e comerciantes da zona leste de São Paulo pela ação inédita dos bandidos. Com a ajuda de um caminhão-guincho de veículos, ladrões levaram duas bancas inteiras, com tudo o que tinha dentro.

O primeiro caso foi registrado em 18 de dezembro. A jornaleira Ivone Alves Pereira, 65, chegou para trabalhar, mas não encontrou a banca, localizada na avenida São Miguel, 3.837, em São Miguel Paulista, a 200 metros do 24º DP (Ponte Rasa).

Foi só após conversar com um vigia que faz ronda pelo bairro que descobriu o crime. "Nunca imaginávamos que poderíamos ser vítimas de um roubo como esse. Levaram a banca toda com um guincho e com tudo dentro", afirmou a servidora Daiane Alves de Souza, 34 anos, filha da jornaleira. A banca era concretada ao chão.

O segundo caso aconteceu na madrugada de 26 de dezembro, na mesma avenida São Miguel, 5.111, já em Ermelino Matarazzo, a um 1,3 km do primeiro roubo.

Rivaldo Gomes/Folhapress
Jornaleiro há 30 anos, Josadables Francisco Soares, 63, teve sua banca roubada em São Paulo
Jornaleiro há 30 anos, Josadables Francisco Soares, 63, teve sua banca roubada em São Paulo

Imagem da câmera de segurança de uma loja mostra a ação. Um caminhão-guincho para próximo à banca com as luzes acesas.

Dois homens aparecem e, aparentemente, dão apoio a um terceiro homem, que coloca o cabo de aço em volta da banca, apenas apoiada no chão. Com o guincho, eles puxam a banca para cima do caminhão e vão embora. A ação leva 20 minutos.

"Para todo mundo que eu conto o que aconteceu ninguém acredita. Nem mesmo o policial que veio fazer a perícia", afirmou o jornaleiro Josadables Francisco Soares, 63, dono da banca. Ele foi avisado por um comerciante amigo, que passou pelo local e não viu a banca.

O delegado Paulo Henrique Navarro, titular do 24º DP, onde o primeiro caso está sendo investigado, disse que a principal suspeita é que os bandidos estão interessados na estrutura da banca, avaliada em R$ 10 mil. Para ele, os dois roubos podem ter sido praticados pela mesma quadrilha.

'A VIDA É AQUELA BANCA'

A jornaleira Ivone Alves Pereira começou a vender jornais e revistas há 30 anos, quando um tio comprou uma banca na av. São Miguel, em frente a um ponto de ônibus.

Segundo a funcionária pública Daiane Alves de Souza, 34 anos, filha da jornaleira, com a morte do tio, Ivone herdou a banca e tomou gosto pelo negócio. "Eu cresci dentro daquela banca."

Daiane contou que a mãe já havia sido assaltada sete vezes, à mão armada. Mas desta vez, levaram a banca inteira e de onde ela tirava o sustento. "Minha mãe só chora. A vida dela é aquela banca. Por enquanto, continua entregando jornais para alguns clientes, Mas não sabemos como vai ser no futuro", afirma a servidora.

TRINTA ANOS DE JORNALEIRO

O jornaleiro Josadables Francisco Soares sempre quis ter o próprio negócio e "ser dono do seu nariz". A oportunidade surgiu depois que foi demitido da empresa onde trabalhava. Com o dinheiro da indenização, deu entrada na banca da avenida São Miguel, e parcelou o restante.

O trabalho na banca de jornal sustentou Soares, a mulher e três filhos. Foi também com o que ganhou lá que comprou casa e carro.

Em mais de 30 anos como jornaleiro, nunca tinha sido assaltado. A primeira foi no dia 26 de dezembro, quando levaram a banca inteira.

"Ainda não sei o que vou fazer. Espero que devolvam. Tenho que trabalhar pois ainda faltam dois anos para eu me aposentar", disse.


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