Folha de S. Paulo


Vacina contra dengue é aprovada pela Anvisa e deve ser vendida em 3 meses

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a primeira vacina contra a dengue no país. A decisão, publicada no "Diário Oficial" da União nesta segunda-feira (28), é o passo inicial para a comercialização do produto no Brasil.

A vacina da multinacional francesa Sanofi Pasteur já recebeu o aval de agências reguladoras no México e nas Filipinas. Aqui, a expectativa é que ela esteja disponível para o mercado privado no prazo de três meses. Com três doses, a vacina é destinada ao público entre 9 e 45 anos de idade e tem taxa de proteção de 66% para pessoas dessa faixa etária.

A eficácia foi considerada "baixa" pelo presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa –especialistas ainda têm ressalvas quanto ao prazo das doses, aplicadas a cada seis meses. A vacina contra a febre amarela, por exemplo, tem eficácia de mais de 90%. A vacina contra o vírus HPV, por sua vez, tem eficácia estimada em 98,8% contra o câncer do colo de útero. Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur, destaca que a vacina contra dengue tem eficácia de 93% em casos graves e diminui em até 80% os casos de internação.

O estágio de desenvolvimento de cada vacina

A diretora da Sanofi Pasteur ainda pondera que 70% dos casos de dengue no país ocorrem entre a população contemplada na vacina. O que ocorre é que crianças e adultos acima de 60 anos são grupos mais vulneráveis, com maior número de casos graves.

"Quando uma pessoa é picada, nem sempre ela tem sintomas, mas está com o vírus circulando no sangue. Quando um mosquito pica de novo, pega o vírus e transmite pra outra pessoa. Quando a gente vacina 20% da população, a proteção se estende para 50% da população. São modelos matemáticos de transmissão, já comprovados. E essa é uma faixa [etária] que viaja muito. Se a gente vacinar esse grupo, vamos proteger os pequenos e maiores de 60 anos."

Dengue fase a fase

REDE PÚBLICA

Em nota, o Ministério da Saúde destacou que a adoção da vacina pelo SUS (Sistema Único de Saúde) "será estudada com prioridade e levará em conta critérios como a relação custo x efetividade, eficácia e população alvo".

A pasta ponderou ainda que o governo federal "estabeleceu prioridade" para pesquisas referentes ao mosquito aedes aegypti. "O Ministério da Saúde reforça que, neste momento, somente o combate ao mosquito Aedes Aegypti é eficiente contra a multiplicação dos casos de dengue, Chikungunya e Zika", diz o texto.

PREÇO

A definição do preço da vacina é feita pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) e, segundo ponderou Homsani, vai depender da estratégia adotada pelo governo federal para oferta do produto à população. Neste mês, o ministro Marcelo Castro (Saúde) argumentou que o custo é visto como um "problema".

"O custo é bastante elevado. Uma dose custa em torno de 20 euros [R$ 84]. Com uma população de 200 milhões de habitantes, isso fica inviável", disse, na ocasião. Uma ideia inicial, disse o ministro, seria oferecer a vacina para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, "porque é um público que se movimenta muito".

"O preço vai depender da estratégia de implantação que o governo vai adotar. Se vai colocar no calendário público e para quem", diz a diretora da Sanofi Pasteur. Ela destaca que a multinacional tem uma capacidade de produção anual de 100 milhões de doses. "Não há vacina para todos."

A médica, no entanto, pondera que independentemente da comercialização do produto, a população deve se manter alerta ao combate do mosquito. "A vacina não protege contra zika e chikungunya, só contra dengue. Se as pessoas continuarem a manter água no vasinho, e o mosquito se proliferar, vamos continuar tendo casos de zika e chikungunya. Nossa preocupação é que as pessoas relaxem [no combate], e isso não pode".


Endereço da página:

Links no texto: