Folha de S. Paulo


Bombeiro morto em incêndio era apaixonado pela profissão, diz mulher

Arquivo Pessoal
O bombeiro civil Ronaldo da Cruz morreu no incêndio; ao lado sua mulher, Rita de Cássia dos Santos Osório Cruz
O bombeiro civil Ronaldo da Cruz morreu no incêndio; ao lado sua mulher, Rita de Cássia dos Santos

"Ai que lindo meu marido. Meu herói, não acredito", disse, chorando, a funcionária pública Rita de Cássia dos Santos Osório Cruz, 49, enquanto olhava fotos no celular. Ela é viúva do bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, 39, morto no incêndio no Museu da Língua Portuguesa, na tarde desta segunda (21).

Rita conta que o marido era um apaixonado pela profissão e capaz de dar a vida pelas pessoas. Ele trabalhava havia seis anos como bombeiro, três deles como brigadista terceirizado no museu. Nesta segunda, Cruz ajudou os funcionários a deixarem o prédio. "Ele fazia o que gostava. Pode ter certeza, era com amor. Onde estiver agora está se sentindo com o dever cumprido", disse Rita.

Casado havia seis anos, o casal costumava trocar mensagens apaixonadas por um aplicativo de mensagens instantâneas várias vezes ao dia. Rita contou que o marido era muito romântico e mostrou para a reportagem da Folha as últimas mensagens trocadas.

"Agora não sei como vai ficar", disse, nesta madrugada, enquanto esperava na porta do IML (Instituto Médico Legal) do Hospital das Clínicas a liberação do corpo.

A última vez que a funcionária pública viu o marido foi na hora do almoço, horas antes do incêndio. Ela foi levar comida para ele, porque não gostava que comesse qualquer alimento. O casal morava no bairro da Casa Verde, na zona norte da cidade.

Na tarde desta segunda, quando viu as imagens do museu em chamas pela TV, Rita começou a ligar para o marido. "O celular só caía na caixa postal. Tive certeza que alguma coisa tinha acontecido com ele, porque era o primeiro a ligar", disse.

A funcionária pública lembra que disseram a ela ao telefone que o marido estava em observação. Mas ele chegara morto ao hospital.

Chorando muito, Rita disse que o marido não gostaria de vê-la triste. "Mas o que eu posso fazer? Tá um vazio, uma dor, não tem explicação, não tem explicação", falou, abaixando a cabeça e tentando segurar o choro.

Cruz deixa um filho de dez anos de um outro relacionamento e três enteados que ele considerava como filhos, segundo a mulher. O velório do bombeiro será no necrotério do Chora Menino, em Santana, na zona norte. O enterro está previsto para as 16h30, no cemitério da Vila Nova Cachoeira.

Assista

INCÊNDIO

O incêndio que destruiu parte do prédio da estação da Luz, patrimônio histórico na região central de São Paulo, devastou todo o Museu da Língua Portuguesa, um dos mais visitados da cidade e abrigado no local desde 2006.

Segundo os bombeiros, as chamas destruíram o segundo e terceiro andares do prédio, mas, em princípio, não afetaram a estrutura da estação de trem local –onde passam 200 mil pessoas ao dia. No local, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que irá reconstruir o museu.

O incêndio começou por volta das 15h50 desta segunda (21) e foi controlado duas horas e meia depois. Uma imensa nuvem de fumaça cinza se espalhou pelo centro da cidade, e o teto de madeira do prédio, restaurado no século passado, desabou.

Para conter as chamas, os bombeiros contaram com a ajuda da forte chuva que desabou à tarde na capital paulista. Como toda segunda-feira, o museu estava fechado ao público. Funcionários relataram que deixaram o prédio após ouvir o alarme de incêndio.

"O museu foi totalmente afetado, é uma tragédia", disse o secretário estadual de Cultura, Marcelo Araújo. Todo acervo do museu, porém, é digital e, segundo ele, conta com cópia de segurança -ainda não estimativa de prejuízo.

O museu da língua portuguesa


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