Folha de S. Paulo


Depoimento

Dúvidas típicas da gravidez deram lugar à procura pelo mosquiteiro perfeito

Grávida de pouco mais de cinco meses, na última semana gastei todos os minutos em que estive diante do computador, fora do trabalho, não na busca por uma babá eletrônica perfeita ou por informações sobre o parto, mas procurando um mosquiteiro para cama de casal que me proteja do maldito vírus zika.

Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, é o atual pesadelo das gestantes brasileiras. A infecção por ele está associada ao "boom" de casos de microcefalia em recém-nascidos.

Desde que surgiram as notícias sobre tal associação, incertezas que pontuam os mágicos nove meses de gestação ganharam ares de terror.

Comumente, a mágica de gerar uma vida vem acompanhada de uma série de angústias. O coração está batendo? Tem duas pernas e dois braços? Alguma doença genética ou má-formação? Essa dorzinha é sinal de que algo está errado? Anestesia ou parto natural? Carrinho assim ou assado? Papel de parede ou adesivo? Luíza ou Flora?

A associação de infecção por zika em gestantes e o nascimento de bebês com microcefalia, e a falta de conhecimento sobre esse novíssimo elo, porém, se sobrepôs a essas interrogações e aflições.

Isso porque, se pouco ou nada pode ser feito para prevenir doenças (muitas delas genéticas) ou más-formações nos embriões, além de tomar ácido fólico, a ideia de que um mosquito pode causar lesões irreversíveis no seu neném é assombrosa ao mesmo tempo em que chama à ação, por vezes desesperada.

Primeiro, fiz uma blitz no jardim, no gramado e nos vasos de temperos de casa para eliminar pratinhos e quaisquer outros recipientes que pudessem reter água. Mas como saber a quantas anda o quintal dos vizinhos?

Depois, comprei todos os quatro tubos de repelente Exposis (considerado o mais eficaz contra o inseto) que havia na farmácia. Deveria ter feito um estoque maior?
Deixei um no quarto, um no lavabo, um na gaveta do trabalho e um de reserva. E passei a usá-los três vezes ao dia. Será suficiente?

Quando surgiu a informação de que sua eficácia não é de "dez horas", mas 2 h e 45 min, apelei para o mosquiteiro. Vai que ele desaparece do mercado, como o repelente...

Apesar do esforço, o zika parece ter presença tímida em São Paulo. Mas quem garante que não cruzará meu caminho bem na hora que meu repelente está vencido?

Após as festas de final de ano e o vaivém de gente pelo país, o vírus deve se espalhar do Nordeste para o resto do Brasil, oficialmente.

Desde novembro, minha cabeça é um campo de batalha entre a razão (a probabilidade de eu pegar zika é estatisticamente pequena) e o instinto (não posso bobear, ninguém está imune ao risco). Até lá, toda manhã, quando pego um dos tubos de Exposis, cada dia mais vazio, entre um chute e outro da bebê, me dá frio na barriga.

Clique para ler perguntas e respostas sobre gravidez e o vírus zika
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