Folha de S. Paulo


Órgão gestor quer vetar shows no parque Ibirapuera

O artista é famoso, o cenário é perfeito para aproveitar o sol, e a selfie rende muitos likes na rede social, mas os shows de gigantes da música brasileira podem estar com os dias contados no Ibirapuera. Ao menos é o que pretende o conselho gestor do parque.

O local nos últimos anos já recebeu shows de nomes como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil.

Mas a gota-d'água para o conjunto de organizações e frequentadores do Ibirapuera que compõem o conselho gestor foi o ocorrido no último domingo (13) no parque.

Naquele dia, a Prefeitura de São Paulo realizou um show com a presença de artistas como Ney Matogrosso, Criolo, Mano Brown, Elza Soares e Pitty. O evento marcava o encerramento do Festival dos Direitos Humanos, promovido pela gestão.

Segundo estimativas da Guarda Civil Metropolitana, estiveram presentes cerca de 100 mil pessoas no parque.

Era possível ver garrafas plásticas e de vidro jogadas no gramado, além de copos e garrafas descartáveis. A vegetação e até mesmo ninhos de pássaros locais teriam sido danificados no show.

Na manhã de segunda-feira (14), o vendedor de cocos Eduardo de Sales, 46, assistiu às equipes de limpeza do parque ainda tentando recolher os vestígios daquele evento do dia anterior.

"Os shows têm que ser mais moderados. Eles estão errando um pouco na escolha dos artistas, chamando gente que atrai muito público. O parque não tem infraestrutura para um show desse tamanho", afirma.

Sales, que trabalha há dez anos no parque e é conselheiro da gestão do local, acha que a superlotação dos shows coloca as pessoas em risco.

Marcus Leoni/Folhapress
Thobias Furtado e Carla Carnero, do conselho gestor do Ibira, querem que órgão seja ouvido
Thobias Furtado e Carla Carnero, do conselho gestor do Ibira, querem que órgão seja ouvido

ALVARÁ

A própria concessão de alvará para o show pareceu estranha aos membros do conselho. Enquanto o alvará permitia a reunião de 30 mil pessoas, a área externa do auditório tem capacidade para apenas 15 mil pessoas.

"Não faz sentido tirar o show daqui, já tem o auditório, que é um equipamento para música. Mas tem que ser um evento que não cause grande impacto ao parque", argumenta Sales.

Outra conselheira do parque que discorda dos grandes shows é a advogada Carla Carnero, 35, que no conselho representa usuários do Ibirapuera.

Para a advogada, o conselho precisa voltar a ser consultado sobre a realização desses shows, como diz uma lei municipal. "A gente não tem sido nem mesmo informado sobre eventos", conta.

PLANO ANUAL

Thobias Furtado, 36, outro membro do conselho, diz ser importante que se crie um plano anual de eventos dentro do parque e que eles sigam parâmetros definidos de capacidade de público e horário de funcionamento.

Thobias é fundador do Parque Ibirapuera Conservação, organização não governamental que propõe e executa medidas de zeladoria e conservação da área.

Sobre a participação do conselho gestor na decisão do que ocorre no Ibirapuera, a Prefeitura de São Paulo afirma que cabe a ele indicar e sugerir procedimentos para aprimorar tais autorizações de eventos.

Contudo, diz a administração Fernando Haddad (PT), não cabe ao órgão deliberar sobre o assunto.

LEI MUNICIPAL

Uma lei municipal de 2013, no entanto, dá poderes deliberativos ao conselho e diz que ele deve participar, analisar e opinar no que se refere aos pedidos de realização de eventos em qualquer parque municipal.

Mesmo confrontada com essa informação, a gestão municipal não respondeu se chamou o conselho para debater a realização de shows no Ibirapuera.

A prefeitura também não quis comentar o fato de ter emitido o alvará de um show para capacidade de 30 mil pessoas em um espaço que comporta 15 mil e que acabou recebendo cerca de 100 mil espectadores.


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