Folha de S. Paulo


Paciente com sintoma do vírus zika deve usar preservativo, diz virologista

Pessoas com suspeita de infecção pelo zika devem usar preservativo em relações sexuais para evitar uma possível transmissão do vírus.

A afirmação é da virologista Cláudia Duarte, pesquisadora da Fiocruz no Paraná e uma das primeiras a confirmar a circulação do vírus no Brasil, em maio, após análise de amostras de pacientes do Rio Grande do Norte.

Para ela, a existência de dois relatos na literatura científica internacional de possíveis transmissões do vírus pelo sêmen sugere que a camisinha possa ser um meio de prevenção contra o zika. "Como existem esses relatos, existe uma recomendação de ter relação sexual usando preservativo. Não é nenhuma coisa de outro mundo, é algo que já preconizamos", diz.

A falta de dados conclusivos sobre outras formas de transmissão do zika, até então relacionado apenas ao mosquito Aedes aegypti, é apenas mais uma das muitas dúvidas sobre o vírus.

As outras são quais impactos ele traz para mulheres grávidas infectadas, como se relaciona com outras doenças que afetam o sistema imunológico e até quanto tempo ele pode ser encontrado no corpo depois da infecção.

À Folha, Duarte diz que, ao analisar as amostras em maio, já esperava que o zika fosse chegar ao Brasil –epidemias do vírus já haviam sido registradas na Polinésia Francesa, onde também há dengue e chikungunya.

"O problema é que é a primeira vez que ele causa uma epidemia dessa proporção. Estamos aprendendo em tempo real", afirma. Segundo ela, o vírus tem capacidade de se transformar de forma rápida.

Editoria de Arte/Folhapress

MICROCEFALIA

Para a virologista, embora já haja uma "forte" associação entre o zika e o avanço de casos de microcefalia em bebê, não é possível dizer que o vírus seja causa do problema.

"Um vírus pode agir de várias maneiras. Às vezes não é nem o vírus que causa a doença, é a nossa resposta imune muito exacerbada." Outras possibilidades, diz, são uma possível modificação do micro-organismo e a interação com outras doenças.

Segundo Duarte, nem toda gestante que teve zika deve gerar fetos com má-formação. Para ela, são necessários estudos de longo prazo para confirmar o problema.

Até que haja respostas mais claras, ela recomenda que as mulheres que planejam engravidar avaliem se é possível adiar a decisão. "Como tudo é muito novo, temos que ser preventivos. Se fosse eu ou minha filha, aconselharia que esperasse um pouco. Se puder evitar, não custa", diz.


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