Folha de S. Paulo


Bebês com suspeita de microcefalia têm lesões oculares

Médicos do Recife (PE) e de Salvador (BA) estão investigando uma série de alterações nos olhos de crianças com suspeita de microcefalia associada ao vírus zika. Entre os problemas encontrados estão glaucoma, catarata congênita e lesões do nervo óptico e da retina.

A suspeita é que a infecção pelo vírus zika provoque lesões em várias estruturas cerebrais (como as que vão resultar na microcefalia), entre elas as que são responsáveis pela visão -já que o olho é uma extensão do cérebro. Em praticamente todos os casos avaliados até agora (em torno de 30), a visão dos bebês tem algum grau de comprometimento.

Só na Fundação Altino Ventura, no Recife, 20 crianças foram examinadas. Segundo Liana Ventura, presidente da entidade, os danos parecem variar conforme o período de gestação no momento em que a infecção por zika teria ocorrido (quanto mais precoce, maior o dano).

Na próximos dias 14 e 18, haverá na fundação um mutirão oftalmológico para avaliação de todos os bebês com diagnóstico de microcefalia. Em Pernambuco, são 804 casos suspeitos.

A proposta é que sejam afastadas outras hipóteses, ou seja, infecções que também podem causar lesões oculares, como herpes, rubéola e citomegalovírus. Liana diz que é importante as crianças receberem estimulação visual precoce e outras terapias para reduzir os efeitos dos danos.

Editoria de Arte/Folhapress

As informações obtidas no mutirão vão resultar em um estudo multicêntrico que servirá de referência para outros Estados que enfrentam os mesmos problemas. "Os profissionais vão utilizar os mesmos protocolos clínicos e os mesmos equipamentos. Queremos que as informações tenham o maior grau de solidez possível."

Na Bahia, as avaliações oftalmológicas dos bebês estão acontecendo no Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador. Segundo o oftalmologista Bruno Freitas, que examinou três recém-nascidos, os bebês com quadros mais graves de microcefalia apresentam também as lesões oculares de forma mais intensa.

"O que me chamou a atenção foi que a lesão não tem aspecto característico da maioria das lesões que costumamos visualizar nas infecções congênitas, como toxoplasmose, sífilis, rubéola, entre outras", diz Freitas.

BOATOS

Nesta quarta (9), a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o Ministério da Saúde desmentiram boatos nas redes sociais de que o vírus zika estaria causando lesões neurológicas em idosos e crianças.

"Não existe nenhuma evidência científica que possa correlacionar o vírus zika com o comprometimento nervoso em crianças menores de 7 anos e em idosos", disse o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli.

Segundo Cláudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, pode ocorrer uma complicação neurológica em várias doenças causadas por vírus ou bactérias, mas não há uma preferência por crianças ou por adultos ou por idosos, e em geral esses sintomas são reversíveis.

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LESÕES OFTALMOLÓGICAS

Oftalmologistas de Recife e Salvador investigam uma série de alterações nos olhos de crianças que nasceram com microcefalia associada ao vírus zika

Problemas encontrados
> Glaucoma
> Catarata congênita
> Lesões do nervo óptico e da retina

A hipótese
A infecção pelo vírus zika causa lesões em várias estruturas cerebrais (como as que vão levar à microcefalia), entre elas as que são responsáveis pela visão, já que o olho é uma extensão do cérebro


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