Folha de S. Paulo


Chefe da Samarco se recusa a dar entrevista, e Folha apresenta 25 perguntas

Cristiane Mattos - 11.nov.2015/AFP Photo
O presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, em Mariana, em entrevista coletiva em novembro
O presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, em Mariana, em entrevista coletiva em novembro

Na primeira semana de novembro, uma barragem da mineradora Samarco se rompeu no interior de Minas, e um "tsunami" de lama tóxica destruiu um vilarejo, matou 15 pessoas e deixou outras quatro desaparecidas.

Os 40 bilhões de litros de rejeitos de minério percorreram 500 km de rios e atingiram o litoral do ES. No trajeto pelo interior mineiro e capixaba, matou peixes e outras espécies, na maior tragédia ambiental do país. As causas do acidente, porém, ainda são desconhecidas.

Desde então, a Folha mantém seguidos pedidos de entrevista com o presidente da empresa, Ricardo Vescovi.

Como as recusas se repetem, a Folha publica a seguir as perguntas que gostaria de fazer pessoalmente ao executivo da mineradora controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton.

*

1. A Samarco se considera responsável pelas mortes de trabalhadores da empresa e de moradores de Bento Rodrigues, em Mariana (MG)?

2. Por que o monitoramento que a empresa diz ter feito não registrou o avanço do risco de ruptura da barragem?

3. Germano Lopes, diretor da empresa, disse em entrevista que alguns moradores foram avisados por telefone logo após a ruptura da barragem. Quantos foram avisados? Quem são esses moradores?

4. A Samarco nunca cogitou retirar os moradores de Bento Rodrigues? E nunca se incomodou com tanta gente morando perto de uma estrutura que depois se mostrou vulnerável?

5. Por que a empresa engavetou o plano de emergência que previa monitoramento das estruturas por meio de telemetria [processamento e transmissão de dados a distância] e visitas diárias de funcionários?

6. Por que não havia monitoramento eletrônico 24 horas nas barragens nem alarme sonoro em Bento Rodrigues?

7. Como forma de precaução, por que a empresa não construiu, antes da tragédia, diques para conter ou desviar a lama desse distrito?

8. O plano de emergência não previa que a lama pudesse chegar até o litoral do ES, atravessando e devastando 500 km da bacia do rio Doce?

9. Por que o plano de emergência falhou e não conseguiu conter a lama numa área próxima ao vazamento?

10. Qual é a causa da ruptura? Por que, após mais de um mês da tragédia, a empresa ainda não sabe o que ocorreu?

11. Por que a Samarco tem tomado medidas quase sempre a conta-gotas e apenas após pressão de Justiça, prefeituras, órgãos ambientais e Ministério Público?

12. Quais as ações que estão sendo feitas com as populações atingidas, mais de um mês depois da tragédia?

13. Quantos moradores estão sendo assistidos diretamente pela Samarco? E como esse plano vai continuar sendo feito nos próximos anos?

14. A quantidade de rejeitos e a rapidez com que eles foram depositados nos últimos anos na barragem podem ter influenciado no rompimento, como apontam as investigações do Ministério Público?

15. Outras barragens de Mariana estão sendo monitoradas e reparadas? Qual é o risco atual?

16. A Samarco já pagou a multa aplicada pelo Ibama no valor de R$ 250 milhões?

17. O preço das commodities anda em baixa, e a empresa ainda enfrenta todo um custo pós-tragédia. Há plano de redução de investimentos e de demissão de funcionários?

18. Em quanto tempo a empresa voltará a operar normalmente?

19. A Samarco pretende reconstruir uma nova barragem utilizando técnicas consideradas mais seguras atualmente?

20. Em termos gerais, o que vai mudar agora, dentro da empresa, nas políticas de gerenciamento de risco sobre barragens?

21. A Samarco vai investir em algum fundo para recuperação da bacia do rio Doce?

22. Por que a Samarco não divulgou, até hoje, a composição química da pasta de lama estocada nas barragens de Germano e de Fundão?

23. Por que a empresa demorou tanto para pedir desculpas pela tragédia?

24. O que a Samarco vai fazer com as áreas destruídas em Mariana? Como os moradores não podem voltar para as áreas, a empresa vai comprar os terrenos? Se sim, para quê? Vai transformar a área em novas barragens da mineradora?

25. A empresa vai financiar a reconstrução das vilas? Onde serão construídas as novas casas para essas pessoas?

Avener Prado/Folhapress
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