Folha de S. Paulo


Construção de condomínio é aprovada no centro de cidade histórica em Goiás

A bucólica igreja do Nosso Senhor do Bonfim, erguida há 260 anos, e casas centenárias do centro histórico de Pirenópolis (GO) estão prestes a ganhar um novo vizinho: um condomínio de alto padrão com 192 apartamentos.

O empreendimento já foi autorizado pela prefeitura e pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) -a cidade é tombada desde 1990. Mas um grupo de moradores tenta, na Justiça, barrar a obra.
O terreno tem 60 mil m², mas terá apenas 6.000 m² de área construída (o máximo permitido pelo Plano Diretor). O restante será de área de reflorestamento.

O condomínio, que deve ser lançado em 2016 e concluído até 2021, vai ser erguido nos moldes de fração imobiliária, ou "time sharing": cada apartamento terá 12 donos, que podem usá-lo por quatro semanas ao ano, de acordo com um calendário fixo. Os proprietários podem colocar suas cotas à disposição para aluguel.

Prefeitura e construtora afirmam que, embora o condomínio seja erguido no centro histórico, não vai alterar paisagem e estrutura locais, além de estar de acordo com as exigências ambientais.

Mas parte dos moradores da cidade dizem que os problemas vão além. Formado por urbanistas, turismólogos e donos de pousadas, entre outros, o movimento "Piri Sem Time Share" diz que a cidade, de 24 mil habitantes, não está preparada para empreendimentos do tipo.

"O turista procura em Pirenópolis descanso e banho de cachoeira, fuga dos centros urbanos", diz o turismólogo pirenopolino Luiz Triers, 28. Ele é contra o condomínio porque vai trazer "um turismo que a cidade não comporta." "Pirenópolis não tem planejamento de trânsito, falta energia, água e rede de esgoto. Não temos como abrigar tanta gente", completa.

O grupo entrou com uma ação na Justiça para barrar a construção, segundo Triers. Eles afirmam temer que o empreendimento abra caminho para outros do tipo. Hoje, construtoras pleiteiam licenças para pelo menos outros dois condomínios de fração imobiliária na cidade.

"Sou a favor da sustentabilidade, de um crescimento ordenado e planejado, o que não acontece", afirma a urbanista Jeanne Marie White, que mora em Pirenópolis há 10 anos. "Quem vem para cá, procura qualidade de vida. Não podemos ter uma cidade pequena com problemas de cidade grande", diz ela.

Onde fica Pirenópolis

OUTRO LADO

De acordo com a arquiteta Juliana Mesquita, sócia da construtora B3, que projetou o empreendimento, o local terá transformador e gerador de energia, poço artesiano e tratamento de esgoto próprios. Além disso, terá três vias de acesso por fora do centro histórico para não prejudicar o trânsito.

Ela afirma que a empresa demorou dois anos para conseguir as licenças. "Se todos os empreendimentos tivessem tido as exigências que tivemos, a cidade não estaria hoje passando por esses transtornos", diz. Ela ressalta que o condomínio vai gerar mais de 300 empregos na construção e operação.

"A gente espera que as pessoas tenham consciência da importância do desenvolvimento turístico. A gente não quer depredar a cidade, mas trazer um bom produto", diz.

O secretário municipal do meio ambiente, Arthur Abreu, afirma que o licenciamento foi concedido porque é uma questão técnica. "Se apresentam os estudos exigidos e está tudo certo, é liberado", diz. "Como vou barrar um condomínio de 192 apartamentos e liberar dez com 50 vagas?", questiona.

Procurado, o Iphan apenas disse, via assessoria de imprensa, que o empreendimento foi analisado pela superintendência de Goiás e aprovado por estar de acordo com a legislação vigente.


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