Folha de S. Paulo


Resgatados de lama em Mariana, animais são tratados por voluntários

Paracatuzinho hoje respira sossegada. A cadela vira-lata tem dois meses e meio e foi resgatada há cerca de 15 dias do lamaçal em Paracatu de Baixo, em Mariana (MG). Na ocasião, tinha o abdômen aberto e as costelas expostas.

Como ela, outros 23 filhotes e mais 180 cães adultos vítimas do rompimento da barragem da Samarco recebem ajuda de voluntários num galpão alugado pela empresa. No local, ainda estão três gatos, 50 cavalos, vacas e galinhas. Retirados pelas equipes de resgate do lamaçal de resíduos de minério, os bichos apresentam várias doenças –na pele, respiratórias e gastrointestinais.

No galpão, os animais recebem limpeza, alimentação e tratamento de saúde. São identificados com números, embora muitas vezes ganhem apelidos dos cuidadores. Foi o caso de Paracatuzinho, que ganhou esse nome de veterinários que atuam no local.

Há outros bichos como ela. A cachorra número 69, por exemplo, é Famosa, cuja foto estampou a capa da Folha quando foi resgatada. Já um macho com parte da boca rasgada é o Boquinha.

Os voluntários vêm até de outros Estados, e alguns já estão acostumados a ajudar animais após desastres. O veterinário Arthur Nascimento, 28, passou 45 dias em Nova Friburgo (RJ) após as enchentes de 2011 e diz que a tragédia de Minas é "muito pior".

"Lá, a gente retirava os animais da lama, lavava e eles já estavam bem. Aqui todo dia a gente acha bicho atolado, doente, mesmo um mês depois da tragédia", afirmou.

Sem trabalho após concluir o mestrado, Bráulio Faria, 27, saiu do Espírito Santo sensibilizado pela situação e vai ficar em Minas "até quando a conta bancária der".

O grupo recebe ajuda de ONGs, universidades e de bombeiros civis. Além do galpão, a Samarco alugou quatro fazendas para abrigar bois e cavalos já saudáveis. Por enquanto, os animais aguardam que os donos os busquem.

Se isso não acontecer até fevereiro, os animais domésticos serão doados. Ainda não é certo o que será feito com os bichos de grande porte e as galinhas, que devem ser de pessoas que perderam seus terrenos com a tragédia.

Além de ser difícil reconhecer a quem pertencem as aves, outro problema se instalou internamente.

DOAÇÃO?

"O pessoal das comunidades usava essas galinhas para consumo, mas, como tem muita gente de ONG aqui e eles não concordam [com a morte dos bichos], já houve discussões sobre o que fazer com elas: se a gente dá, se divide entre os moradores, ou se põe em um local para criar pintinhos", disse Carolina Pheysey, responsável da Samarco pelo resgate e acomodação dos animais.

No caso das vacas e dos cavalos que não são ferrados (marcados), é necessário que os donos levem duas testemunhas para retirá-los. Os animais recebem doações de ração, água, medicação e alimentos por meio da própria Samarco ou da Aopa (Associação Ouropretana de Proteção aos Animais).

Até a última sexta-feira (4), cinco cachorros, cinco gatos e seis calopsitas haviam retornado para seus donos.

Avener Prado/Folhapress
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