Folha de S. Paulo


Umbanda rejuvenesce, mas mantém a tradição de cultuar Iemanjá no fim de ano

O maior encontro anual de umbandistas foi aberto neste fim de semana em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, para homenagear a Orixá mais popular do Brasil, Iemanjá, a Rainha do Mar.

Como tradição desde os anos 1960, adeptos da umbanda comemoram no dia 9 de dezembro, data antes dedicada a Oxum, o dia de Iemanjá.

Em meados da década de 1950, os primeiros umbandistas do Estado de São Paulo promoviam o "encontro das águas" em São Vicente com uma procissão das duas rainhas das águas.

Com o passar dos anos, o aumento da população de São Vicente, também no litoral sul paulista, e à proximidade de uma área militar, os adeptos escolheram Praia Grande para manter a tradição de reunir as tendas para as comemorações. O que poucas pessoas sabem é que os médiuns organizados pelo Primado da Umbanda homenagearam o espírito Caboclo Mirim batizando o bairro como Vila Mirim.

Nos anos 1970, Iemanjá já era a Orixá mais popular do Brasil com várias imagens e músicas dedicadas à chamada Rainha do Mar.

Os fiéis da umbanda, religião tipicamente brasileira que tem preceitos do Kardecismo com a incorporação de entidades populares como Caboclo, Pretos Velhos, Marinheiros, Baianos, adoram os Orixás por sua "força natural".

Muitos jovens participam das cerimônias de umbanda no litoral paulista. A sacerdotisa Domitilde Pedro, 60, que está na religião há 35 anos, explica que muitos jovens buscam carinho em seu templo. "Recebemos visitas de judeus, evangélicos e católicos que querem um conselho. Iemanjá é a mãe que representa esse amor" diz Mãe Domitilde.

Segundo Pai Alexandre Cumino, 42 sacerdote e professor, autor de vários livros sobre a umbanda, explica: "A umbanda é a religião essencialmente voltada para o bem, não fazemos nenhum mal para a sociedade, nosso princípio é a prática da caridade". O líder religiosos que coordena um colégio de umbanda percebe que as casas que tem estudo tem recebido novos adeptos.

Neste ano, a festa foi marcada por ocorrer pela primeira vez sem presença da maior referência da religião, o Pai Rubens Saraceni, que morreu em março e era incentivador da tenda coletiva.

Diferente das outras tendas que reservam o espaço para os trabalhos e atendimento do público, a mega tenda da AUEESP - Associação Umbandista e Espiritualista do Estado de SP- recebeu na madrugada de domingo 2200 adeptos de branco para cantar e homenagear Iemanjá. A organização vendeu ingressos no valor de R$ 30,00, para custeio da estrutura e trabalhadores e visitantes colocavam uma pulseira amarela de identificação para acessar a tenda.

Cumino comenta que "festejamos Iemanjá em dezembro para fechar o ano com agradecimentos e pedidos para o próximo que se inicia com harmonia e prosperidade. Os rituais da Umbanda são praticados na maior parte do litoral brasileiro sem saber o porquê. Pular 7 ondas significa as 7 linhas da Umbanda, usar roupa branca, oferecer flores e champanhe, tudo isso são agrados a Iemanjá. Na década de 60, o Rio de Janeiro ditava a moda e os leigos copiavam os umbandistas que faziam os rituais discretamente nas praias.

A Prefeitura de Praia Grande apesar de ter perdido espaço para Mongaguá e Guarujá estima receber nos dois finais de semana cerca de 300 mil religiosos.

DIFERENÇAS ENTRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E KARDECISMO

Kardecismo é doutrina espírita baseada no evangelho de Jesus Cristo, codificada por Allan Kardec, que prega a paz, a harmonia sem adoração aos Orixás ou qualquer entidade. Tem cunho filosófico voltado para a evolução do homem por meio da prática do bem, humildade e caridade

Candomblé religião milenar vinda da África com os escravos que sincretizaram os Orixás em santos católicos para enganar a elite que não tolerava outra religião. No Candomblé, o líder ou a líder religiosa são os babalorixás e a Ialorixás. A incorporação dos médiuns são para os Orixás que, não falam. A consulta é feita pelo líder religioso por meio do jogo de búzios, muito comum na Bahia e Maranhão

Umbanda foi apresentada no Brasil em 1908 pelo jovem Zélio Fernandino de Moraes, na época com 18 anos, que incorporou o seu mentor espiritual, Caboclo das Sete Encruzilhadas, e deu as diretrizes na religião assemelhada ao kardecismo, porém, com trabalho de entidades como os Pretos-Velhos, Caboclos, Baianos, personagens tipicamente brasileiros. Adoram os Orixás e, no altar Jesus Cristo sempre está no alto.

Orixás são divindades que tem suas forças ligadas à natureza e possui sentimentos humanos. Cada Orixá tem sua sua característica própria.


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