Folha de S. Paulo


Surto de microcefalia leva casais a congelar os embriões e adiar gravidez

O medo de se infectar pelo vírus zika e gerar filhos com microcefalia está levando casais que buscam por reprodução assistida a congelar seus embriões para tentar a gravidez mais para a frente.

Outros estão desistindo, por ora, de iniciar o processo de fertilização e vão esperar até que haja mais segurança sobre as formas de prevenção do vírus que pode causar má-formação cerebral nos fetos.

Segundo as clínicas, mulheres que vivem em Estados do Nordeste com surtos de microcefalia, como Pernambuco, estão cancelando o tratamento para retomá-lo quando a situação epidemiológica estiver controlada.

Outras que já tinham programado o tratamento para esse período estão preferindo congelar os embriões e mantê-los armazenados em botijões de nitrogênio na clínica até quando houver mais segurança sobre o zika.

Para as mulheres que decidem pelo congelamento, o tratamento é feito em duas etapas: na primeira, a ovulação é induzida com hormônios, os óvulos, fertilizados e os embriões, congelados.

Quando se sentirem seguras para engravidar, os embriões serão descongelados e transferidos para o útero.

De acordo com as clínicas, as taxas de gravidez com embriões congelados são semelhantes às feitas com os "frescos" (logo após o tratamento), em torno de 40%, em média.

Editoria de Arte/Folhapress

"Podemos programar a transferência a partir de abril, por exemplo, dependendo da situação e da prevalência de infecção do vírus zika em São Paulo e nos outros Estados onde residem as pacientes", explica o ginecologista Artur Dzik, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Reprodutiva.

Ele diz que, diante do aumentos de casos de microcefalia no Nordeste, decidiu, por precaução, não fazer mais transferências embrionárias neste ano. "Vou aguardar os números da doença e definir o momento mais seguro."

O ginecologista Eduardo Motta, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), lembra que ainda é preciso responder, com segurança, a seguinte questão: qual é o período de maior risco para a mulher grávida: no início da gestação, quando os órgãos do bebê estão se formando, ou ao longo da gravidez também é arriscado?

"Podemos programar a transferência para os meses frios. Mas, se ela engravidar em maio, por exemplo, terá o bebê em fevereiro, no verão, quando provavelmente estaremos no pico de um outro surto. Será seguro?"

A questão é que a maioria das mulheres que busca tratamentos de fertilização está no limite da idade reprodutiva, quando as chances de gravidez caem drasticamente.

"As mais jovens podem esperar. Mas as que têm acima de 35 anos correm contra o tempo. Até os 35 anos, as chances [de gravidez] são de 50%. Depois começam a cair ano a ano. Aos 40, estão em 25%", explica Motta.

A professora Juliana, 38, tenta engravidar há oito anos. Sofreu três abortos e, cinco anos atrás, quando iniciaria tratamento reprodutivo, teve que adiá-lo devido a um tumor na tireoide e do tratamento radioativo.

"Agora que estou liberada, vem essa história de zika. É muito frustrante tanto adiamento", diz ela, que está no fim do tratamento e congelará os embriões em seguida.

Infográfico: Entenda a microcefalia


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