Folha de S. Paulo


Parentes de desaparecidos da tragédia em Minas vivem angústia por notícias

Alexandre Rezende/Folhapress
Roseli Gomes, que está com marido desaparecido, e o filho, Pedro Emanuel, 5
Roseli Gomes, que está com marido desaparecido, e o filho, Pedro Emanuel, 5

Faz quase um mês que a dona de casa Roseli Gomes, 45, aguarda um telefonema.

Desde que soube do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), onde o marido trabalhava, ela sabe que a única notícia que terá é a da localização do corpo.

"Mas, até agora, não acharam nem o caminhão onde ele estava", lamenta.

Casada há 11 anos com Claudemir Elias dos Santos, 41, motorista da Integral, terceirizada da Samarco, Roseli resolveu mudar para a casa da mãe, também no distrito de Santa Rita Durão, em Mariana, porque "o sinal de celular pega melhor" ali.

A mãe de Roseli, Maria Viviana, 73, também espera por notícias de Claudemir. "Quero que encontrem pelo menos os ossos", afirma.

No dia 5 de novembro, Claudemir saiu de casa às 5h30 e não voltou.

Naquela tarde, ocorreu a tragédia que tirou do mapa um vilarejo de Mariana e deixou um rastro de destruição ao longo do rio Doce, que carregou a lama até o litoral do Espírito Santo.

Quase um mês depois, famílias de cinco funcionários e de três moradores de Bento Rodrigues, o distrito que foi destruído pela lama, ainda não sabem quando conseguirão enterrar seus mortos.

Até agora, 11 vítimas já foram enterradas, mas há dois corpos que, de tão decompostos, só poderão ser identificados após um exame de DNA.

Alexandre Rezende/Folhapress
Marly de Fátima com a filha, Emilia, 3; ela ainda não teve notícias da mãe, Maria das Graças, desde o dia da tragédia
Marly de Fátima com a filha, Emilia, 3; ela ainda não teve notícias da mãe, Maria das Graças, desde o dia da tragédia

Os bombeiros continuam se revezando nas buscas, mas a extensão do terreno e a quantidade de lama dificultam o trabalho.

Dos 13 corpos resgatados, seis foram parar no município de Rio Doce, a quase cem quilômetros da barragem que se rompeu. O último foi achado no dia 26 em Ponte do Gama, a 35 km, e, desde então, não há novidades.

BUSCA

Em Mariana, onde está a maior parte dos moradores de Bento Rodrigues, parentes de alguns dos desaparecidos já não vão mais ao distrito acompanhar o trabalho de resgate. Sabem que é inútil.

É o caso de Marly de Fátima, 31, que não viu mais a mãe, a aposentada Maria das Graças Celestino, 64, desde o último dia 5. Maria das Graças tinha saído de casa para ir à cabeleireira.

Marly e o irmão, Marcelo, ainda tentaram procurá-la enquanto a avalanche de rejeitos de lama descia, mas não a encontraram.

"O pessoal do Bento ainda avisou que a lama estava descendo, mas acho que ela não ouviu, porque tem problema de audição", diz a filha.

Maria das Graças era conhecida, segundo Marly, por ser prestativa e nunca esquecer dos aniversários dos amigos. "Tenho esperança pelo menos de que encontrem ela. Em vida, só se for um milagre", afirma.

Já o aposentado Antônio Prisco, 65, sabia da enxurrada de lama, mas não quis sair de casa.

Ele era vizinho da irmã, Judith Caetano, 67, e do cunhado, José Caetano, 79, que ainda estão abrigados em hotéis de Mariana, pagos pela Samarco, e têm pouca esperança de novas notícias.

"Quando dizem que encontraram um corpo grande, já penso logo que não pode ser o dele [de Prisco]", diz Caetano. "O apelido dele era Totozinho, porque ele era pequeno, tinha um metro e pouco."

A mineradora, propriedade da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton, tem enviado psicólogos para conversar com as famílias afetadas pela tragédia.

Quando outra barragem de rejeitos de lama se rompeu e matou três pessoas em 2014, em Itabirito (a 60 km de Belo Horizonte), o último corpo foi achado apenas seis meses depois do acidente.

Roseli, a mulher de Claudemir, sabe que a espera pode ser longa. Mas diz que ela e o filho, Pedro Emanuel, 5, só voltarão para casa depois que o telefone tocar.


Endereço da página:

Links no texto: