Folha de S. Paulo


Batalhão dos PMs que atiraram em 5 jovens é o que mais mata no Rio

Em nenhuma outra região do Rio a polícia mata e atira mais do que na área do 41º Batalhão da PM (Irajá), na zona norte, em que estão lotados os policiais militares que dispararam ao menos 50 tiros contra um carro, matando os cinco jovens que o ocupavam, no final de semana.

A unidade ocupa há três anos o topo do ranking de homicídios em supostos confrontos com a polícia. Entre janeiro e outubro deste ano, foram 67 vítimas nessas circunstâncias -um terço de todos os homicídios na área.

A proporção está acima da média do Estado (13%) e da capital (21%).

Há um ano à frente do batalhão, o tenente-coronel Marcos Netto foi exonerado do cargo. Em nota, a PM disse que a medida é consequência dos "últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando".

Bruna Fantti/Folhapress
Carro em que estavam cinco jovens mortos em Costa Barros, zona norte do Rio, na noite de sábado (28). Quatro PMs foram presos
Carro em que estavam cinco jovens mortos em Costa Barros, zona norte do Rio, na noite de sábado (28). Quatro PMs foram presos

No enterro de quatro dos cinco jovens assassinados, familiares fizeram um protesto com uma bandeira do Brasil repleta de furos.

Os quatro agentes presos afirmam que os jovens foram atingidos em confronto. Eles ainda não têm advogados.

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), classificou a ação dos PMs como "abominável". O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que o caso revela "falha de caráter".

O histórico do batalhão revela uma rotina de violência na região provocada pela PM.

Levantamento da corporação apontou que os agentes do batalhão de Irajá são os que mais dispararam armas de fogo entre dezembro de 2014 e maio de 2015 na capital. A PM não divulga o número de disparos, que serviu de base para a elaboração do Índice de Aptidão do Uso da Força Policial (IAUF), desenvolvido pelo pesquisador Ignácio Cano, da Uerj.

O índice apontou que 73 dos 560 agentes do batalhão de Irajá atiraram acima do esperado. É o único da capital em que mais de 10% do efetivo ultrapassou o limite.

Sete deles foram deslocados para um curso de reciclagem para controle do uso da força. Os quatro presos não fizeram parte desse reforço.

REFORÇO DO EXÉRCITO

Fundado em 2010, o batalhão é o responsável por policiar os complexos da Pedreira e do Chapadão, áreas em que Pezão solicitou a ocupação do Exército para a Olimpíada de 2016.

Duas trágicas atuações protagonizadas pelos policiais da unidade viraram exemplos para a corporação "do que não se deve fazer".

Em agosto de 2014, um policial atirou em um carro com quatro jovens -em ação semelhante à deste domingo-, matando Haíssa Motta, 22.

Em outubro, um agente do batalhão confundiu um macaco hidráulico com um fuzil e assassinou o adolescente que o carregava, Jorge Lucas de Jesus Paes, 17.

"Enquanto não cobrarmos das altas autoridades um compromisso efetivo, estaremos condenados a repetir a encenação cotidiana da tragédia e do extermínio", disse o presidente da Anistia Internacional, Átila Roque.


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