Folha de S. Paulo


Instituto mineiro encontra metais pesados acima do limite no rio Doce

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Um relatório sobre a qualidade de água do rio Doce após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), apontou a presença de metais pesados acima do limite legal em regiões atingidas pela lama de rejeitos de mineração da Samarco, empresa que pertence à Vale e anglo-australiana BHP Billiton e é "presidida por Ricardo Vescovi.

O laudo preliminar foi feito pelo Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) e mostra que, entre os dias 7 e 12, foram encontradas quantidades superiores ao permitido de arsênio, cádmio, chumbo, cromo, níquel, mercúrio e cobre.

Técnicos das empresas de saneamento de Minas, de Governador Valadares (MG) e de uma fundação estadual, no entanto, apresentaram outros laudos nesta sexta-feira (27) que atestam a possibilidade de consumo "sem restrição" da água tratada do rio Doce.

Eles afirmam que, na água que passou por tratamento para ser distribuída à população, não foram encontrados metais pesados. Os técnicos disseram ainda que, nos locais em que a água ainda não havia sido tratada, eles estariam em níveis que não representam riscos para seres humanos.

Segundo o relatório do Igam, em alguns casos o nível de chumbo ultrapassa cem vezes o limite, como ocorreu no dia 8 nos municípios de Ipatinga e Belo Oriente. No mesmo dia, o nível de arsênio estourou o limite em dez vezes.

À exceção do mercúrio, todos esses metais ultrapassam, em ao menos um momento, o máximo histórico registrado na região pelas estações de monitoramento do Igam.

Laudos divulgados anteriormente pela Samarco, realizados pelo Serviço Geológico do Brasil e pela empresa SGS Geosol, que dizem ter coletado sedimentos do rio Doce e dos rejeitos da barragem, haviam demonstrado que não houve contaminação da água.

Em nota divulgada nesta sexta (27), a mineradora reafirmou que não há "aumento da presença de metais que poderiam contaminar a água". Desde o dia 16, os moradores da maior cidade dependente do abastecimento do rio Doce, Governador Valadares, voltaram a receber água do próprio rio, agora tratada com um novo composto químico. A Copasa (empresa de saneamento de Minas) disse que essa água é potável e não oferece risco ao consumidor.

METAIS REVIRADOS

O laudo do Igam é datado do último dia 17, mas foi divulgado esta semana. As coletas acompanharam o avanço dos rejeitos de lama pelos municípios. O relatório diz que os metais encontrados podem ter vindo de material que estava depositado há longos períodos no leito do rio e que foi revirado com a chegada da lama de rejeito.

O diretor do Saae (Serviço de Água e Esgoto de Valadares), Omir Quintino, reforça essa hipótese como a mais provável e diz que a água da cidade já voltou a um patamar seguro de qualidade. Segundo Quintino, se houver outra enxurrada de rejeitos o fornecimento será cortado mais uma vez até que outros testes sejam feitos.

O Igam afirmou que não é possível prever quando as condições do rio voltarão à normalidade por causa do "impacto causado pelo evento e a possibilidade de novos revolvimentos ocasionados por fatores externos, tais como a ocorrência de chuvas na bacia".

Infográfico: Dano ambiental


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