Folha de S. Paulo


Taxistas agridem motorista do Uber em Porto Alegre

Veja vídeo

Dois taxistas agrediram um motorista do Uber no estacionamento de um hipermercado Carrefour, no bairro Partenon, em Porto Alegre (RS). O espancamento foi gravado e postado em redes sociais e provocou notas de repúdio inclusive do prefeito da cidade, José Fortunati (PDT).

O motorista do Uber estava em um Ford Fiesta escuro e teve ferimentos no rosto e na cabeça. Ele foi levado até o Hospital Cristo Redentor e passa bem. Os agressores deixaram o local fazendo ameaças e foram presos, segundo a Brigada Militar. Ambos foram encaminhados para a 2ª Delegacia de Pronto Atendimento, no Palácio da Polícia.

A agressão aconteceu um dia depois de a Câmara Municipal de Porto Alegre proibir o funcionamento do serviço em Porto Alegre. O Uber começou a operar na capital gaúcha na última semana.

A EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), que gerencia o transporte na capital gaúcha, informou por meio de sua conta no Twitter que os taxistas envolvidos na agressão serão suspensos preventivamente quando identificados. O Carrefour disse que acionou a Brigada Militar assim que percebeu o incidente e que irá colaborar na investigação.

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, disse, por meio de nota, repudiar a agressão, "Principalmente este [ato] de tamanha covardia que tomei conhecimento Solicitei imediatamente ao diretor da EPTC, Vanderlei Cappelari, a abertura de uma sindicância para apurar os fatos e responsabilizar os autores da agressão. A autorização para dirigir táxis de todos os envolvidos, que foram devidamente registradas por imagens, tem que ser suspensa imediatamente. O papel de coibir transportes clandestinos cabe única e exclusivamente aos agentes de trânsito e Brigada Militar."

O Uber afirmou, também em nota, que "se solidariza com o motorista parceiro e que o uso de violência em qualquer forma, sobretudo contra cidadãos trabalhadores, é inaceitável". A empresa disse que está oferecendo todo o apoio ao motorista atacado e todas as medidas legais cabíveis serão tomadas. Ao jornal "Correio do Povo", a assessoria de imprensa do sindicato dos taxistas disse que os dois agressores "responderão pelo que fizeram".

Reprodução/Zero Hora
Bráulio Pelegrini Escobar, 40, motorista do Uber que foi agredido em Porto Alegre
Bráulio Pelegrini Escobar, 40, motorista do Uber que foi agredido em Porto Alegre

'BANDA PODRE'

Em casa, se recuperando das agressões sofridas nessa quinta-feira (26), e que lhe renderam um traumatismo craniano leve, o motorista do Uber Bráulio Escobar se manifestou pelas redes sociais. Em sua conta do Facebook ele criticou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati e a "banda podre" da categoria de taxistas.

"Infelizmente, foi assim que cheguei em casa na 'terra de ninguém' do prefeito Fortunati, com recomendação de ficar 24 horas acordado", escreveu Escobar. Ele fez referência a uma entrevista que o prefeito deu na manhã de quinta, na qual criticou o Uber ao dizer: "O Uber mostrou a sua prepotência, seu autoritarismo. Achou que Porto Alegre era terra de ninguém. Não é. Se é para regulamentar, vamos regulamentar. Agora, não venham para cá usar o espaço público como quiserem. Aqui tem prefeito, tem Câmara de Vereadores e tem leis". A declaração foi dada ao vivo à Rádio Gaúcha.

Escobar também afirmou que tem respeito pela categoria dos taxistas, mas reconhece que uma minoria acaba agindo à margem da lei, a quem chamou de "banda podre". "Os hematomas e contusões no meu rosto e no meu corpo estão aqui para lembrar que atitudes como a desta corja infiltrada entre taxistas são imperdoáveis."

Escobar foi agredido por um grupo de taxistas no fim da tarde dessa quinta-feira, no estacionamento do hipermercado Carrefour do bairro Partenon, na zona leste da capital. Dois foram presos pela polícia militar logo após das agressões. Cauê Cavalheiro Varella e Alessandro dos Santos Schesser devem responder por tentativa de homicídio. Ambos possuem antecedentes criminais, como ameaça e lesão corporal, mas sem condenações.

A Polícia Civil, que investiga o ocorrido, tenta identificar outros taxistas que participaram das agressões. Como ao menos parte da ação foi flagrada por testemunhas que gravaram as cenas com celulares, os policiais acreditam ser fácil a identificação dos demais envolvidos. Nesta manhã, os investigadores solicitaram as imagens das câmeras de monitoramento do estacionamento do Carrefour para auxiliar no trabalho.

Assim que iniciou a apuração dos fatos, a polícia ligou a agressão sofrida por Escobar a outros dois casos de ameaças nas quais as vítimas são motoristas do Uber. Nos três casos, os motoristas fazem relatos semelhantes, que levam a crer que foram pegos em emboscadas. O primeiro caso ocorreu na semana passada, quando o Uber iniciou seus trabalhos em Porto Alegre. O segundo remonta o início desta semana.

Escobar disse à polícia que os agressores o chamaram pelo aplicativo no fim da tarde de ontem se passando por passageiros. Depois de circular pela cidade por cerca de 55 minutos, eles pediram que o motorista parasse no estacionamento do hipermercado.

Ao estacionar, ele contou ter sido cercado por mais cerca de dez homens que estavam em um ponto de táxi. Escobar foi agredido por socos e pontapés, e seu carro, danificado. O motorista relatou que, durante as agressões, ouvia que era "vagabundo" e que estava "tirando alimento da boca dos filhos" dos que o agrediam.

Infográfico: Entenda o Uber


Endereço da página:

Links no texto: