Folha de S. Paulo


Ilhado por lama, ribeirinho busca água de barco no ES

Desde domingo (22), a rotina do pescador José Antônio Siqueira, 43, é pegar o barco e se lançar no rio Doce. A atividade é a mesma de uma vida toda, não fosse o fato de que agora ele carrega, em vez de redes para pesca, três galões vazios de água.

Isolado em uma das ilhas formadas nos canais do rio Doce, o ribeirinho gasta 20 minutos até chegar à casa de sua mãe, Darília, 60, em Regência, distrito de Linhares (ES), para abastecer-se de água potável. Desde o fim de semana, o poço artesiano do sítio está com água barrenta.

Como José, comunidades ribeirinhas banhadas pelo rio Doce relatam falta de água potável desde a chegada ao local, no sábado (21), da lama da barragem da Samarco, em Mariana (MG). Há quem reclame da demora da mineradora em atender os apelos por água.

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Além da lama, José tem de enfrentar outro obstáculo para buscar água: as boias de contenção instaladas pela Samarco por ordem judicial, rentes à vegetação das ilhas.

A Folha acompanhou o esforço do ribeirinho para passar com o barco de madeira no estreito corredor entre boias e árvores. Ele precisa desligar o motor, buscar o remo dentro do barco e apoiá-lo no fundo do rio para se desvencilhar de galhos que se prendem às boias.

Os três galões duram um dia para ele e seu vizinho, Edvaldo Gomes Lima. Eles usam a água para beber, cozinhar, tomar banho e, o que sobrar, dar para os bois, galinhas e cães. A maioria dos animais bebe água barrenta do poço.

"Eu fico aqui correndo atrás do gado, mas tem muitos bebendo água direto desse rio, e não sabemos o que tem nessa água", disse Lima.

Às 18h, uma caminhonete da Samarco deixou para cada um dos dois moradores dois galões de 20 litros e a promessa de que, no dia seguinte, retornariam com uma caixa d'água para dar aos animais.

Há relatos de falta de água em Areal, Entre Rios e na praia de Povoação, vizinha a Regência. Segundo funcionários da Samarco, estão sendo distribuídos galões de água ou enviados caminhões-pipa.

A mancha de lama chega a 20 km mar adentro e 35 km ao norte da foz do rio Doce. Ao sul da foz, a dispersão foi de 8 km, segundo o Iema (instituto ambiental do ES).

Infográfico: Dano ambiental


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