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Em uma semana, casos de microcefalia em recém-nascidos crescem 85%

Eduardo Anizelli/Folhapress
Mãe segura filho que nasceu com microcefalia, diagnosticada em hospital referência
Mãe segura filho que nasceu com microcefalia, diagnosticada em hospital referência

O Brasil já soma 739 casos notificados de bebês com microcefalia, malformação do crânio que pode trazer sequelas graves ao desenvolvimento da criança. Em apenas uma semana, o número de registros cresceu 85% e já atinge ao menos 160 municípios de nove Estados.

Destes, Pernambuco registra o maior número de diagnósticos, com 487 até o momento. Em seguida, estão Paraíba, com 96 registros, Sergipe (54) e Rio Grande do Norte (47). Também há casos registrados no Piauí (27), Alagoas (10), Ceará (9) e Bahia (8). Goiás também já informou um caso suspeito –é o primeiro registro fora do Nordeste.

Os dados fazem parte de novo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (24), a partir de informações enviadas pelas secretarias estaduais de Saúde. O número, porém, pode ser ainda maior, já que o levantamento considera apenas os dados até a última sexta-feira (21).

O governo investiga ainda uma morte de um recém-nascido com o diagnóstico no Rio Grande do Norte. Estados, no entanto, já informam ao menos cinco mortes que podem ter relação com o quadro, que leva os bebês a nascerem com o perímetro da cabeça menor do que a média, que é acima de 34 cm (para os casos de partos não-prematuros).

Segundo o Ministério da Saúde, todas os casos notificados ainda devem ser confirmados por meio de tomografias e outros exames, que detectam indícios da malformação no cérebro do bebê.

A infecção pelo vírus zika, identificado no Brasil no primeiro semestre deste ano e transmitido pelo mesmo mosquito da dengue, é apontada como a principal hipótese para o aumento de casos de microcefalia no país.

Isso ocorre por três motivos principais. O primeiro é a coincidência temporal entre o aparecimento da doença e o posterior surgimento de casos da anomalia em recém-nascidos. Outro fator são os relatos de mães de bebês sobre a presença de sintomas de zika durante a gestação, como manchas vermelhas na pele. E, ainda, resultados de exames no líquido amniótico de duas gestantes da Paraíba que confirmaram a infecção dos fetos pelo vírus.

Infográfico: Entenda a microcefalia

Diante das evidências, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse que cientistas estão prestes a confirmar a hipótese "de maneira definitiva".

"Podemos afirmar com segurança que está acima de 90% as chances de ser o zika vírus", afirmou Castro, que classifica o cenário como "gravíssimo".

MOSQUITO TRANSGÊNICO

Em meio ao avanço dos registros, o governo estuda ampliar o uso de medidas de combate ao mosquito transmissor da dengue, chikungunya, zika vírus, o Aedes aegypti.

Novo balanço do Ministério da Saúde amplia para 18 o número de Estados com registros de circulação do zika. Na semana passada, eram 14. Entram na lista Amazonas, Espírito Santo, Rondônia e Tocantins.

Entre as possibilidades para aumentar o combate ao vetor, está o uso de mosquitos transgênicos ou de bactérias que, ao contaminar o Aedes aegypti, o impossibilita de transmitir doenças.

O uso desses recursos, hoje em teste em algumas regiões do país, no entanto, depende ainda da avaliação sobre a disponibilidade dessas tecnologias em larga escala e possíveis efeitos.

"É possível fazer isso numa região inteira e num país inteiro? Não sabemos. É uma das ferramentas que prenunciamos para o futuro", diz Castro. "Precisamos saber quanto vamos ter [de recursos] suficiente e quanto isso custa."

Além destas medidas, o governo também planeja pedir o apoio do Exército para atuar nas ações de prevenção, caso necessário. O uso de telas nas janelas também é recomendado.

O receio é que a alta circulação do vírus da zika faça com que casos de microcefalia, hoje concentrados no Nordeste, sejam registrados também em outras regiões.

"Se confirmada [a hipótese], poderemos ter um alastramento desses casos para outras regiões do país uma vez que a circulação do zika está bastante espalhada em outros Estados", afirma o secretário de vigilância em saúde, Antônio Nardi.

Uma equipe de pesquisadores estrangeiros, chefiada por um representante da agência CDC (Centro de Controle de Doenças), dos Estados Unidos, deve chegar ao Brasil na próxima semana para acompanhar o caso e auxiliar nas investigações.

MICROCEFALIA

Em geral, crianças com microcefalia podem ter problemas no desenvolvimento, com limitações para falar, andar, escutar, a depender da gravidade do caso. Cerca de 90% dos casos de microcefalia estão relacionados a alguma deficiência mental. Em situações mais graves, a ocorrência pode levar à morte do bebê.

Para identificar os casos, o Ministério da Saúde recomenda que profissionais de saúde sigam os protocolos formulados ou utilizados pelas respectivas secretarias de saúde, que informam quais exames devem ser realizados e estabelecem hospitais de referência para atendimento às mães e bebês.

Entre as medidas de precaução para gestantes, estão não tomar remédios sem orientação médica, evitar ambientes com mosquitos e contato com pessoas suspeitas de infecções.

Já quem ainda pretende engravidar neste período deve conversar com seus familiares e médicos sobre possíveis riscos ao bebê, diz o Ministério da Saúde.


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