Folha de S. Paulo


Promotoria resgata cerca de 300 peças sacras em Mariana (MG)

O Ministério Público de Minas Gerais informou nesta quinta-feira (19) que resgatou 310 peças sacras em Mariana (MG), em regiões atingidas pela lama da mineradora Samarco, responsável pela barragem que se rompeu no dia 5. Ao menos sete pessoas morreram e 12 continuam desaparecidos.

Segundo a Promotoria, após o incidente uma equipe de especialistas em patrimônio cultural fez levantamentos históricos e vistoriou quatro capelas: Mercês e São Bento (em Bento Rodrigues), Santo Antônio (em Paracatu de Baixo) e Nossa Senhora da Conceição (em Barra Longa).

Os custos da restauração dos bens cabem à Samarco, segundo o promotor de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo Miranda. Ele afirmou, ainda, que a empresa pode responder por crime contra o patrimônio cultural.

Miranda não mencionou o valor dos bens nem a autoria das obras, mas disse que a região foi frequentada "pelos maiores artistas de Minas Gerais" ao longo dos séculos 18 e 19.

Somente na capela de Nossa Senhora das Mercês, construída no século 18, que fica na parte mais alta de Bento Rodrigues, 260 peças foram resgatadas, entre imagens sacras, cálices, castiçais, sinos e instrumentos litúrgicos. O acervo foi transferido para a reserva técnica do Museu de Arte Sacra de Mariana.

A capela de São Bento, construída em 1718, foi totalmente destruída, restando apenas parte das estruturas de pedra, de acordo com a Promotoria. Segundo o Ministério Público, altares barrocos inteiros estão desaparecidos, provavelmente soterrados pela lama. Uma das obras mais valiosas da capela é uma imagem do padroeiro da região, São Bento, com cerca de 60 cm, esculpida em madeira e folheada a ouro.

De acordo com Miranda, a Promotoria recomendou isolar o entorno dos templos "para evitar o tráfego de veículos pesados, como retroescavadeiras e tratores que estão se movimentando na área". "Porque, se um trator desses passa em cima de uma peça do século 18, nós vamos ter um dano ainda maior", diz.

O resgate e o balanço de danos, ressaltou o promotor, é preliminar e levou em consideração apenas os objetos sacros resgatados. Fazendas e sítios históricos de mineração também foram afetados e podem entrar na conta de bens perdidos.

"Bento Rodrigues era cercado por um muro de pedras absolutamente peculiar, do século 18, pedras maciças que é um patrimônio imenso. Hoje está sob a lama. Esse diagnóstico é preliminar e nós vamos ter muitos outros bens, infelizmente, que serão posteriormente identificados e que também foram afetados por um dano severo", afirmou.


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