Folha de S. Paulo


Prefeitura aponta redução da criminalidade na cracolândia, em SP

Os principais índices de criminalidade caíram no último ano na região da cracolândia, no centro de São Paulo, de acordo com dados da prefeitura. O quadrilátero, de cerca de 300 m² no bairro da Luz, é conhecido pela grande concentração de usuários de drogas, principalmente o crack.

De acordo com os números da administração municipal, não foi registrado nenhum homicídio doloso –quando há a intenção de matar– de janeiro até o fim de outubro deste ano. No mesmo período de 2013 e 2014, foi registrado um crime desse tipo por ano.

As ocorrências de lesão corporal dolosa registraram a queda mais significativa no período. Foram 45 registros desse tipo de ocorrência de janeiro a outubro deste ano contra 95 em 2014 –uma redução de 53%.

O prefeito Fernando Haddad (PT) disse à Folha que a criminalidade caiu na região devido à presença ostensiva do poder público à adesão de usuários ao programa De Braços Abertos. "Tenho 200 guardas civis lá em três turnos. Trocamos luminárias, revitalizamos a região e ainda atendemos 500 pessoas no De Braços Abertos", afirmou.

O presidente do Conseg (conselho de segurança) Santa Cecília, Fábio Fortes, disse que a queda só ocorreu porque os moradores deixaram de registrar os crimes. "A única queda real é a de registros de ocorrências, por medo, cansaço e desilusão das vítimas. A frase do prefeito traduz o descompromisso com as soluções para o grave problema da insegurança de São Paulo, especialmente em Campos Eliseos", disse.

Baseado no conceito de redução de danos, o Braços Abertos consiste em incluir os usuários de crack em um trabalho de varrição de ruas. Se trabalharem de segunda a sexta-feira, recebem um salário de R$ 509 por mês, além de alimentação, hospedagem e assistência.

Haddad fez questão de ressaltar que as investigações e prisões feitas pelo Denarc (departamento de narcóticos da Polícia Civil) também foram essenciais para a queda na criminalidade. "Estou positivamente impressionado com o trabalho que o delegado Ruy Fontes está fazendo à frente do Denarc. Ele faz um trabalho de inteligência que não existia antes", disse.

Questionado se a redução dos crimes na região foi influenciada pela dispersão dos viciados por outras vias da região, Haddad disse que ocorreu o contrário. "Essas pessoas se distribuíam em um espaço muito extenso, o que dificultava o controle. Agora, elas ficam entre as ruas Helvetia e alameda Glete (cerca de 150 metros)", afirmou.

O número de furtos também caiu 40% no mesmo período. Nos oito primeiros meses de 2014, foram registradas 339 ocorrências do tipo contra 204 neste ano. Para o prefeito, esses são sinais de que a cracolândia hoje é um território mais tranquilo, onde "é notável que está havendo uma melhoria."

Por outro lado, uma reportagem do "Jornal Nacional", da Rede Globo, na quarta-feira (18) mostrou quadrilhas fazendo arrastões na região do Brás –bairro de comércio popular na região central.

A média de usuários no fluxo, como é chamado o local onde os viciados de crack se concentram para usar e comprar a pedra, caiu de 1500 para 300 pessoas de abril de 2014 até este mês, segundo a prefeitura. A administração faz três limpezas diárias na cracolândia, com jatos d'água e caminhões de lixo.

DE BRAÇOS ABERTOS

A Folha revelou neste mês que, em um ano, 25% dos usuários que aderiram ao programa De Braços Abertos largaram o serviço. Segundo o dado mais atualizado da prefeitura, no final de agosto, eram 298 pessoas, contra 399 no mesmo período do ano passado.

Os usuários dizem que muitos não se adaptam à rotina de trabalho e acabam abandonando o programa. Deixam de receber o dinheiro, mas boa parte deles continua com hospedagem e alimentação garantidos pela gestão.

Dos 505 oficialmente cadastrados como participantes do Braços Abertos, mais de 200 estão nessa situação. Usuário de crack, Walter de Lima, 44, vive na rua desde criança. Chegou a trabalhar por seis meses no serviço de varrição do programa.

PROGRAMA ANTICRACK


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