Folha de S. Paulo


Doze dias após vazamento de lama em MG, diretor do DNPM pede demissão

Doze dias após o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, que devastou o vilarejo de Mariana (MG) no último dia 5, o diretor-geral do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), Celso Luiz Garcia, pediu demissão do cargo, que ocupava desde 8 de junho deste ano.

O departamento é ligado ao Ministério de Minas e Energia e é responsável por controlar e fiscalizar a mineração no país. O ministério informou que a carta de demissão foi entregue nesta terça-feira (17) junto com um laudo médico, mas não soube informar o que constava no laudo.

O ministro Eduardo Braga deve anunciar um novo nome para ocupar o cargo ainda nesta quarta-feira (18), disse o ministério. Na semana passada, Braga disse que DNPM só havia pago 13,2% do valor previsto para o programa de fiscalização das atividades minerárias por questão de "contingenciamento".

Os esforços de fiscalização receberam apenas R$ 1,3 milhão neste ano, menos da metade dos R$ 3,6 milhões pagos no mesmo período de 2014. Braga defendeu, contudo, que os cortes não teriam comprometido a fiscalização da atividade do setor.

"Estamos vivendo regimes de contingenciamento. É verdade que o DNPM, como todas as agências e os departamentos estão com seus recursos contingenciados, mas isso não significou descumprimento de fiscalização por parte do DNPM", disse Braga na ocasião.

Segundo dados oficiais de relatórios do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), atualizado pela última vez em abril de 2014, mostra que ao menos 16 barragens de mineração no Brasil são inseguras.

DESASTRE EM MARIANA

Doze dias após o vazamento de lama que devastou vilarejo de Mariana e que começa a chegar ao Espírito Santo, a mineradora Samarco reconheceu que outras duas barragens próximas ainda podem ruir. A preocupação é com os reservatórios de Santarém e de Germano. Na semana passada, a empresa havia chamado de "boatos" informações sobre o risco de novo rompimento.

No último dia 5, a barragem do Fundão se rompeu, devastando o subdistrito de Bento Rodrigues, atingindo municípios vizinhos e poluindo o rio Doce. Até esta terça (17), o saldo era de 7 mortos e 12 desaparecidos, além de 4 corpos ainda não identificados.

"A maior preocupação, na barragem de Santarém, é a erosão. Um fluxo descontrolado passando novamente por cima da barragem [como ocorreu no dia da tragédia] poderia aumentar essa erosão e poderíamos ter, sim, passagem desse material", afirmou Germano Lopes, gerente-geral de projetos estruturais da Samarco.

Infográfico: Caminho da lama

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MAIORES DESASTRES AMBIENTAIS NO BRASIL

> Fev.1984 - Cubatão (SP)
Explosão em duto da Petrobras mata 93 e deixou 2.500 desabrigados na Vila Socó. Foram derramados 1,2 milhão de litros de gasolina

> Set.1987 - Goiânia (GO)
Catadores abrem aparelho hospital achado em ferro velho, liberando material radioativo. Oficialmente, quatro pessoas morreram, mas associação de vítimas fala em mais de 60

> Out.1998 - São José dos Campos (SP)
Oleoduto rompe, e vazamento atinge charcos, brejos e o córrego Lambari

> Jan.2000 - Rio de Janeiro (RJ)
Duto da refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, se rompe, e 1,3 milhão de litros de óleo combustível vaza na Baía de Guanabara

> Jul.2000 - Araucária (PR)
Ruptura em junta da tubulação de refinaria da Petrobras causa derramamento de 4 milhões de litros de óleo

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ACIDENTES COM BARRAGENS

> Mar.2003 - Cataguases (MG)
- Rompimento de barragem da Indústria Cataguases de Papel
- Resíduos atingiram o rio Paraíba do Sul e córregos a 200 km, deixando 600 mil sem água
- 1,4 bilhão de litros de resíduos da produção de celulose vazaram

> Jan.2007 - Miraí (MG)
- Ruptura de barragem da Mineração Rio Pomba Cataguases
- 4.000 desalojados e cinco municípios atingidos em MG e no RJ
- 2 bilhões de litros de lama de bauxita derramados

Clique e veja galeria do desastre causado pelo 'tsunami de lama' em MG e ES

Veja galeria especial sobre a tragédia em Mariana (MG)


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