Folha de S. Paulo


Sem citar custos ou prazos, Dilma anuncia revitalização do rio Doce

A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta terça-feira (17) a criação de um projeto de revitalização do rio Doce, atingido pela lama decorrente do rompimento de duas barragens na região de Mariana (MG), que deixou 11 mortos e 12 desaparecidos há duas semanas.

Apesar de dizer que "uma parte expressiva" dos custos vai ser de responsabilidade da mineradora Samarco, a presidente não especificou quanto vai custar o projeto, de onde viria o dinheiro para financiá-lo ou em quanto tempo o cronograma de revitalização poderia ser cumprido.

"Uma parte, que eu acho que é muito expressiva, terá que ser feita por ressarcimento de responsabilidade da empresa. Não sei quanto. Esse é o tipo de coisa que a gente não fala porque não é só que não temos o tamanho do desastre, é porque não temos a noção de quanto tempo vai levar para recuperar", disse a presidente. "Você vai ter que reconstruir a natureza", completou.

Segundo antecipou a Folha, entre as ações que o governo está tratando como "pós-emergenciais", está a cobrança por parte de Dilma a Samarco e suas controladoras, Vale e BHP, que ofereçam uma espécie de "bolsa-estiagem" ou "bolsa-defeso" para as famílias que dependem da agricultura e da pesca, por exemplo.

O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, cobrou a direção da mineradora sobre o número de famílias ribeirinhas atingidas pela tragédia mas, até esta terça-feira, a empresa ainda não havia feito o levantamento.

Após uma reunião com os governadores dos Estados atingidos pela lama, Fernando Pimentel (Minas Gerais) e Paulo Hartung (Espírito Santo), Dilma prometeu um plano para recuperar o rio Doce, para torná-lo "melhor do que ele estava antes" e afirmou que o programa pode ser financiado por um fundo, mas que ainda não há detalhes para o projeto.

"Você pode ter um fundo, pode não ser um fundo, não sabemos ainda. Nós estamos cuidando ainda do monitoramento, a parte maior foi emergencial [...] A recuperação do rio é algo que nós temos que tornar uma questão objetiva a ser feita agora por um motivo: é a única forma de a gente responder à população que foi atingida de uma forma positiva", afirmou a presidente.

Dilma disse ainda que a primeira ação do governo federal, em parceria com estados e municípios, foi monitorar o caminho da lama e o abastecimento de água nas cidades atingidas pela tragédia e que, agora, é preciso pensar em um plano a médio e longo prazo, inclusive, com mudanças na legislação ambiental.

Segundo a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), o processo de recuperação do rio Doce deve levar "pelo menos uma década".

Nesta quarta-feira (18), haverá uma reunião entre o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e os procuradores de Minas e do Espírito Santo para, segundo Dilma, "avaliar a arquitetura jurídica de todos os problemas" que envolvem a tragédia, "desde os emergenciais até o plano de recuperação do rio Doce".

NOVOS ACIDENTES

Segundo a Samarco, outras barragens correm risco de rompimento na região, como a de Santarém, que represa parte dos rejeitos da barragem do Fundão, que rompeu e causa a onda de lama que matou várias pessoas e segue pelo rio Doce, assim como a barragem de Germano.

Diante desse cenário, o governador de Minas, Fernando Pimentel, afirmou que a situação ainda é de emergência, mas que estão sendo feitas barreiras de pedras nas barragens que podem diminuir os riscos.

"Estamos fazendo o monitoramento das barragens diariamente, além do avocamento que começou ontem [segunda-feira (16)], com 500 mil metros cúbicos de pedra. O risco que existe hoje vai diminuir", declarou.


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