Folha de S. Paulo


Samarco admite que barragens ainda podem se romper em Mariana (MG)

Após negar seguidas vezes que as barragens remanescentes da tragédia em Mariana apresentavam risco de ruptura, a Samarco, mineradora da Vale e da anglo-australiana BHP, reconheceu agora que elas podem ruir.

No último dia 5, a barragem do Fundão se rompeu, devastando o subdistrito de Bento Rodrigues, atingindo municípios vizinhos e poluindo o rio Doce. Até esta terça, o saldo era de sete mortos e 12 desaparecidos, além de quatro corpos ainda não identificados.

A preocupação, agora, é com outras duas barragens locais. A de Santarém, que transbordou ao receber o "tsunami" vindo da represa do Fundão, e a de Germano.

"A maior preocupação, na barragem de Santarém, é a erosão. Um fluxo descontrolado passando novamente por cima da barragem [como ocorreu no dia da tragédia] poderia aumentar essa erosão e poderíamos ter, sim, passagem desse material", afirmou Germano Lopes, gerente-geral de projetos estruturais da Samarco.

Segundo ele, "esse fluxo descontrolado pode ser provocado por chuvas intensas".

No dia seguinte à tragédia, o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, anunciou que a barragem de Santarém também havia se rompido, ao ser impactada pelos rejeitos armazenados na do Fundão.

Nesta terça, porém, os representantes da empresa afirmaram que apenas "parte dela foi levada" pela lama.

De acordo com a Samarco, 55 bilhões de litros de rejeitos eram armazenados na do Fundão. Com o rompimento, uma massa de 40 bilhões se deslocou e levou parte de Santarém, que estava abaixo no relevo. Atualmente, na de Santarém, ainda estão acumulados cerca de 5,5 bilhões de rejeitos de minério.

A barragem de Germano, mais distante das duas, também corre risco. Na última semana, a empresa chamou de "boatos" as informações sobre risco de rompimento.

"No inquérito a Samarco está prestando informações diferentes do que divulgado na imprensa, e isso nos preocupou. A gente tem que saber a realidade", diz o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do inquérito que apura o dano ambiental.

A Samarco diz que obras emergenciais estão sendo feitas nas duas barragens. Na Germano, vão durar 45 dias e, na Santarém, 90 dias.

Numa escala que leva em consideração danos sobre vida humanas, bens materiais e meio ambiente, o fator de segurança deve ser de no mínimo 1,5. O dique da barragem de Germano está com 1,22, ante 1,37 na represa Santarém, afirma a própria Samarco.

"Quando é inferior a 1,5 não significa que a barragem em si vai sofrer uma ruptura. Mas, com certeza, trata-se de uma estrutura insegura", diz o consultor Jehovah Nogueira Júnior, que trabalhou em mais de 40 barragens.

Segundo ele, nenhum engenheiro trabalha com fator de segurança 1,5. "É fundamental que exista uma folga. Que se trabalhe com pelo menos 2 [que é o fator máximo]."

Esse cálculo, porém, mesmo que próximo de 2, não dá a certeza total de segurança.

"Nas barragens, pode ocorrer a formação de um túnel dentro delas, por causa da infiltração de água. Se a estrutura não estiver bem monitorada, isso pode fazer com que ela sofra um colapso."

Para Marcelo Valerius, analista ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Goiás, mais importante do que o debate sobre os fatores de segurança é a falta de cobrança por parte dos órgãos públicos de fiscalização.

Segundo ele, existem muitas falhas no processo de segurança de barragens. E cita uma: "Pela pequena distância entre as barragens e a cidade, deveriam existir vários tipos de alerta diretos à população, como avisos sonoros e visuais", diz Valerius.


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