Folha de S. Paulo


Vale admite que recuperar estragos feitos por lama levará 'vários anos'

A Vale admitiu que a remediação dos estragos provocados pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) vai levar "vários anos". Em teleconferência com analistas, o diretor de relações com investidores da Vale, Luciano Siani, disse também que a conclusão sobre as causas do acidente deve levar "muitos meses".

"A Samarco acaba de contratar uma empresa renomada da Bélgica para avaliar a extensão do dano e a extensão dos esforços necessários para limpar o rio. Acreditamos que vai levar vários anos para uma limpeza completa, considerando ainda que qualquer trabalho terá que ser aprovado pelas autoridades competentes", afirmou.

A Vale divide o controle da Samarco com a BHP e promoveu, nesta segunda-feira (16), Teleconferência com analistas para falar dos impactos do acidente sobre suas finanças.

Segundo Siani, ainda não é possível ter uma avaliação detalhada da extensão do dano e os trabalhos realizados pela empresa especializada vão contribuir na elaboração de um plano de recuperação de longo prazo.

O executivo defendeu que o retorno das operações da Samarco antes da limpeza completa ajudaria o processo de remediação, ao permitir a geração de receita para sustentar os custos de reconstrução e limpeza de áreas afetadas. Ele disse que a empresa pode apresentar alternativas técnicas ao uso de barragens, como o tratamento do minério a seco ou o depósito de rejeitos na cava da mina de Germano.

"Precisamos convencer a sociedade de que podemos operar de formar segura e que podemos limpar os danos. Este é o primeiro passo a ser dado", afirmou Siani, repetindo o discurso feito pelo presidente da Vale, Murilo Ferreira, de que o retorno das operações da Samarco depende do "desejo da sociedade".

Infográfico: Caminho da lama

Ele argumentou, porém, que a empresa tem papel importante tanto na economia local, gerando 5,2 mil empregos, como na balança comercial brasileira – é a 10ª maior exportadora do país.

"Até que eventualmente recupere as licenças de operação, a Samarco tem condições de gerar caixa por serviços e venda de energia, que seria aproximadamente um valor equivalente aos seus custos fixos minimizados", informou o diretor financeiro da Vale, acrescentando que não há grandes dívidas vencendo antes de 2018.

As indenizações e multas, porém, podem se tornar um problema para a companhia, disse ele. O seguro para cobertura de responsabilidade civil da Samarco não cobre nem o valor das primeiras multas aplicadas pelo Ibama, da ordem de R$ 250 milhões.

"Posso dizer que a apólice contempla um valor expressivo no que diz respeito ao seguro de risco operacional, ou seja, recomposição dos danos materiais [na mina] e de interrupção do negócios. Mas com relação à responsabilidade civil, é bem inferior ao que vem sendo discutido como indenização, inferior inclusive às multas aplicadas pelo Ibama", afirmou o executivo, em teleconferência com analistas.

Siani repetiu que o foco neste momento é tentar mitigar os impactos do acidente. A Vale enviou maquinário pesado para remover a lama de Bento Rodrigues e promete levar água a comunidades atingidas.

Ele informou ainda que a Vale realizou uma vistoria adicional em suas barragens após o acidente e considera que as condições de segurança são adequadas.

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MAIORES DESASTRES AMBIENTAIS NO BRASIL

> Fev.1984 - Cubatão (SP)
Explosão em duto da Petrobras mata 93 e deixou 2.500 desabrigados na Vila Socó. Foram derramados 1,2 milhão de litros de gasolina

> Set.1987 - Goiânia (GO)
Catadores abrem aparelho hospital achado em ferro velho, liberando material radioativo. Oficialmente, quatro pessoas morreram, mas associação de vítimas fala em mais de 60

> Out.1998 - São José dos Campos (SP)
Oleoduto rompe, e vazamento atinge charcos, brejos e o córrego Lambari

> Jan.2000 - Rio de Janeiro (RJ)
Duto da refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, se rompe, e 1,3 milhão de litros de óleo combustível vaza na Baía de Guanabara

> Jul.2000 - Araucária (PR)
Ruptura em junta da tubulação de refinaria da Petrobras causa derramamento de 4 milhões de litros de óleo

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ACIDENTES COM BARRAGENS

> Mar.2003 - Cataguases (MG)
- Rompimento de barragem da Indústria Cataguases de Papel
- Resíduos atingiram o rio Paraíba do Sul e córregos a 200 km, deixando 600 mil sem água
- 1,4 bilhão de litros de resíduos da produção de celulose vazaram

> Jan.2007 - Miraí (MG)
- Ruptura de barragem da Mineração Rio Pomba Cataguases
- 4.000 desalojados e cinco municípios atingidos em MG e no RJ
- 2 bilhões de litros de lama de bauxita derramados


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