Folha de S. Paulo


'Jesus, não quero morrer', disse menino sumido em acidente em MG

Desde o rompimento de duas barragens em Mariana, a soldadora Geovanna Rodrigues, 28, passa o dia nas proximidades do ginásio da cidade à espera de informações sobre o filho desaparecido, Thiago Damasceno, 7.

"Soube pela avó paterna dele quais foram as últimas palavras do Thiago. Ele disse: 'Jesus, não me deixe morrer, Jesus, Jesus, não quero morrer. Ele clamou muito por Jesus", afirmou Geovanna à Folha, emocionada.

A criança morava no subdistrito de Bento Rodrigues, o primeiro a ser atingido pela lama de rejeitos da mineradora Samarco, e está na lista de 28 desaparecidos na tragédia.

Ele estava ao lado da avó paterna, que está internada em Belo Horizonte, quando o acidente ocorreu e, segundo relato dela, foi levado pela força da lama.

A soldadora disse buscar forças na religião para enfrentar a ausência do filho. "Se eu não fosse espírita, meu mundo já tinha desabado".

Nós últimos dias, Geovanna conta que tem relembrado de momentos marcantes com o menino, como a vez em que levou Thiago a um clube da cidade e ele caiu em uma piscina profunda ao tentar buscar uma bola.

"Eu pulei na piscina para tirar o Thiago e ele me disse: 'Mãe, você me salvou'. Dessa vez eu não estava lá para salvá-lo", lamentou a soldadora.

Filho único, Thiago vivia com a avó paterna em Bento, enquanto Geovanna trabalhava e estudava no município de Arcos.

Carminha de Jesus, 48, avó materna de Thiago, está entre os diversos parentes dos desaparecidos que passam horas em vigília nos arredores de um ginásio, em busca de informações com bombeiros e funcionários da prefeitura.

Carminha diz ter esperança de encontrar o neto ainda vivo. "Ele era minha vida, era tudo para mim, não sei o que será de mim sem meu neto", repete, aos prantos. "Mas a esperança é a última que morre".


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