Folha de S. Paulo


Em vila arrasada por mar de lama, quase não restam portas nem telhados

Após autorização dos bombeiros, a Folha esteve pela primeira vez na tarde de domingo (8) no subdistrito de Bento Rodrigues, o local mais afetado pela lama.

A cena é digna da passagem de um furacão. Havia casas sem telhado, preenchidas quase por completo de lama, e carros lançados metros adiante. Só as casas mais afastadas ainda tinham telhado.

A marca da terra chegava ao teto. Em um bar, a mesa de sinuca parou na porta.

O mar de barro passou por cima da escola. Apenas algumas paredes resistiam em pé, uma delas com um cartaz afixado. O ferro de carteiras despontava na lama.

A profundidade do barro era irregular. Conforme andavam, bombeiros por vezes afundavam as pernas.

O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), reconheceu neste domingo (8) que os 13 funcionários que trabalhavam nas barragens da empresa Samarco em Mariana, na hora em que elas se romperam, "dificilmente serão encontrados com vida".

"Lamentavelmente nós temos que reconhecer isso. Os outros [moradores das áreas atingidas que estão desaparecidos] nós não sabemos."

Havia 26 desaparecidos até ontem (8) —dois nomes foram retirados da lista pois estavam abrigados em hotéis e foram incluídos por engano.

"A gente pode localizar alguém que fugiu ou ficou perdido. Não quero tirar a esperança de ninguém. Pode ser que a gente consiga, mas, a medida que o tempo vai passando, a esperança vai diminuindo", disse o governador.

AVISO SONORO

Pimentel falou ainda sobre a falta de um aviso sonoro para alertar moradores. "Não sei se teria feito muita diferença nesse caso", disse, que repetiu a alegação da Samarco de que a medida não é obrigatória por lei.

Em seguida, minimizou, dizendo que "é importante que haja sinalização sonora".

As barragens se romperam na quinta (5). O motivo ainda é desconhecido. Na hora do acidente, um funcionário da empresa morreu após sofrer uma parada cardíaca.

Segundo o Corpo de Bombeiros, por ao menos uma semana as buscas focarão em encontrar sobreviventes.

Pelo terceiro dia, os bombeiros se confundiram sobre o número de mortos. Neste domingo, ao contrário do que o Twitter da corporação e o Estado diziam, pediu-se para excluir um segundo corpo como vítima do acidente.

Até ontem, dois corpos estavam no IML em Ponte Nova e um terceiro havia sido resgatado no fim da tarde.

Os desencontros fizeram o senador Aécio Neves (PSDB) e a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, cobrarem, em visita a Mariana neste domingo, uma melhor comunicação em relação às operações de busca.

Neste domingo, o prefeito Duarte Jr. (PPS) foi internado por estresse e cansaço.


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