Folha de S. Paulo


Sem sirene, mineradora avisou por telefone moradores sobre acidente

Sem contar com sirenes para alertar os moradores, a empresa Samarco usou o telefone para avisar a alguns moradores, além da prefeitura e Defesa Civil, sobre o rompimento de uma das barragens coladas ao subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), nesta quinta-feira.

Segundo os próprios moradores, foram os gritos dos vizinhos que alertaram os demais para abandonar as casas e fugir para pontos altos do subdistrito. O vilarejo ficou completamente debaixo de lama. Além de uma morte, 13 funcionários estão desaparecidos, mas há relatos de parentes de que diversos moradores do subdistrito ainda não foram localizados. Cerca de 70 famílias foram levadas para hotéis da região.

A informação de que o aviso foi dado por telefone, sem alertas sonoros, foi dada pelo engenheiro Germano Lopes, que é gerente-geral de projetos da Samarco, empresa responsável pelas barragens da mineradora, na tarde desta sexta-feira (6), em entrevista coletiva.

Segundo Lopes, a comunicação foi imediata à constatação de que a barragem havia se rompido, "conforme o plano emergencial". "Não houve sinal de sirene, houve contato via telefone, contato junto à Defesa Civil e à Prefeitura de Mariana e alguns moradores". Questionado, ele não informou quantos dos habitantes foram alertados.

Editoria de Arte/Folhapress

Ainda de acordo com o engenheiro, o aviso foi feito de forma legal, já que a legislação não diz ser obrigatório o uso de sinais sonoros.

A lei 12.334/10 estabelece que haja um PAE (Plano de Ação de Emergência) em caso de emergência, e que este plano deve incluir "estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades potencialmente afetadas".

ABALO SÍSMICO

Na entrevista, o diretor da empresa, Ricardo Vescovi, afirmou que a Samarco foi notificada às 14h de um abalo sísmico na região e que uma equipe foi deslocada até o local para investigar, sem constatar nenhuma anomalia.

Em seguida, ocorreu o acidente. A primeira a se romper foi a barragem do Fundão, por volta das 15h. A ruptura provocou uma onda de lama que se propagou até a outra barragem, a de Santarém, que, diante do impacto, também cedeu sua estrutura.

A barragem de Fundão estava com 55 milhões de metros cúbicos de lama do material de rejeito, muito próximo da capacidade total de 60 milhões de metros cúbicos. Já a barragem de Santarém, formada por água, estava no limite da sua capacidade de 7 milhões de metros cúbicos.

As barragens passavam por obras. A empresa estava construindo um dreno interno, em uma das etapas para alteamento, que seria a subida gradativa da estrutura da barragem. Mas, segundo o engenheiro, esta obra não pode ser cogitada entre as hipóteses para o acidente.

O diretor da empresa afirma que a Samarco seguiu todos os protocolos de segurança que e o plano de emergência "foi aplicado integralmente".

Além de Bento Rodrigues, outros cinco distritos também foram afetados pelo 'tsunami" de lama: Águas Claras, Paracatu, Pedras, Fonte do Gama e Camargos.

Segundo o prefeito Duarte Junior (PPS), onde foi possível alertar para sair do imóvel, moradores deixaram suas casas levando só documentos. "No distrito de Paracatu a parte baixa onde estava a escola, as casas, infelizmente já não existe mais", lamentou. A intenção do município junto à Samarco é de alugar imóveis para as famílias desabrigadas.

Infográfico: Barragem se rompe em MG

OUTROS CASOS

Em 2014, um acidente na barragem da Mineradora Herculano, no dia 10 de setembro, em Itabirito (a 58 km de Belo Horizonte), deixou ao menos três trabalhadores mortos.

Na época, o rompimento da barragem provocou o deslizamento de um grande volume de rejeitos de minério e lama, que atingiu veículos da empresa e matou os funcionários.

Em 27 de maio de 2009, a barragem Algodões 1, em Cocal (282 km de Teresina), se rompeu e matou oito pessoas no Piauí. O acidente liberou todos os 50 milhões de litros de água armazenados.

Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou na época que a barragem Algodões 1 estava sem manutenção havia cinco anos.

Cinco anos antes, uma inundação decorrente de um vazamento na Barragem de Camará (152 km a oeste de João Pessoa, na Paraíba) matou ao menos três pessoas, duas em Alagoa Grande e uma em Mulungu, além de deixar outras 1.600 desabrigadas nos dois municípios.

Os municípios mais atingidos pela enchente -Alagoa Grande e Mulungu- ficam rio abaixo logo depois da barragem, na região do Estado conhecida como "brejo" -que divide o litoral do sertão.

Alagoa Nova, onde fica a barragem, teve poucos estragos em casas na zona rural, pois a construção fica na parte baixa da cidade.

Araçagi, Alagoinha, Mamanguape e Rio Tinto, as duas últimas já localizadas próximo ao litoral paraibano, também sofreram transtornos.


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