Folha de S. Paulo


Rompimento de barragens atinge dois distritos em Mariana (MG)

Ao menos dois distritos de Mariana (116 km de Belo Horizonte) foram atingidos por um "tsunami de lama", após o rompimento de duas barragens de uma mineradora, na tarde desta quinta-feira (5).

Os bombeiros e a prefeitura da cidade ainda não tinham confirmado número de vítimas nem desabrigados até às 6h30 desta sexta (6), mas havia de 25 a 30 funcionários na empresa.

O acidente ocorreu por volta das 15h30, em Bento Rodrigues, a 15 km do centro de Mariana. Inicialmente, a Samarco havia divulgado, em nota, que apenas a barragem de Fundão tinha rompido.

Editoria de Arte/Folhapress

À noite, o diretor-presidente da empresa Ricardo Vescovi informou em um vídeo, publicado em página de rede social, que duas barragens romperam na unidade industrial de Germano, localizada entre as cidades de Mariana e Ouro Preto. Ele disse que a segunda barragem rompida é a de Santarém.

A força da enxurrada destruiu centenas de casas, arrastou veículos e caminhões. Um carro chegou a parar em cima do muro de uma casa.

Na noite desta quinta, a lama já tinha atingido o distrito de Paracatu de Baixo e destruído ao menos 30 casas, segundo informações da Guarda Municipal de Mariana.

A tragédia só não foi maior em Paracatu de Baixo porque a Guarda conseguiu avisar os moradores a tempo de deixarem as casas.

Muitas pessoas foram levadas ao abrigo improvisado para os desabrigados na Arena Mariana e outras buscaram abrigo em uma região de mata na parte mais alta de Paracatu de Baixo, de acordo com a Guarda Municipal.

MORTO

Na hora do rompimento, um funcionário da empresa Samarco, responsável pela barragem de contenção de rejeitos, morreu no local. Sofreu uma parada cardíaca, segundo Sérgio de Moura, diretor do Metabase (sindicato dos trabalhadores na indústria de mineração de Mariana).

Segundo Moura, a Samarco disse que houve abalos sísmicos na região às 14h. O observatório da USP registrou, a 22 km do local, tremor de 2,55 na escala Richter, mas considerado de baixo impacto (com até 3 na escala, nem costuma ser sentido pelas pessoas). O rompimento ocorreu uma hora e meia depois.

A Guarda Municipal informou que também ouviu relatos de moradores da região que disseram ter sentido o abalo sísmico seguido de um estrondo. Uma hora depois, a lama tomou conta de tudo.

Sete carros dos bombeiros de Belo Horizonte, dois de Ouro Preto e helicópteros com cães farejadores foram enviados a Mariana, que foi isolada. A cidade não possui bombeiros militares, apenas civis.

Guardas municipais das cidades de Ouro Preto, Contagem, Nova Lima e Betim também seguiram à cidade para prestar ajuda. Homens do Exército serão enviados à região.

ABRIGO

A prefeitura preparou um ginásio esportivo e o prédio de um colégio profissionalizante para os desabrigados.

"Ao menos 30 pessoas estavam no local na hora do acidente, mas não dá pra saber se há mortos. Falar em números agora é precipitado. As cenas são trágicas, foi uma tragédia que aconteceu na nossa cidade", diz o jornalista Roberto Verona, 50, que passou pelo local logo após o rompimento da barragem. Segundo ele, onde se vê agora lama e água havia uma área de reflorestamento.

Na noite desta quinta, o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, lamentou, em vídeo divulgado na internet, o acidente. Segundo ele, ainda não era possível confirmar as causas e a extensão do ocorrido. A empresa afirma ter se mobilizado para atender as pessoas e mitigar os danos ambientais.

Bombeiros de BH e Ouro Preto dizem que a empresa checou o total de funcionários resgatados e 15 não foram localizados até a noite desta quinta. Familiares se reuniram no Hospital Monsenhor Horta atrás de notícias.

Veja vídeo

MEIO AMBIENTE

Após uma vistoria, a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas) concluiu que o caso não afetou nenhum manancial que compõe a bacia do Rio das Velhas, um dos sistemas que abastece a região metropolitana de BH. O monitoramento vai continuar.

O Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito, conduzido por cinco promotores, para apurar as causas e responsabilidades. Segundo o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, é prematuro tirar conclusões, mas ele descarta se tratar de um "acaso". "Nenhuma barragem se rompe por acaso, isso não é uma fatalidade. Precisamos de rigor nesta apuração."

O Ministério Público enviou uma equipe de técnicos para avaliar o impacto do rompimento. A Secretaria de Meio Ambiente de Minas diz que a última licença para a barragem havia sido concedida em 2013 e que problemas não foram encontrados à época.

A presidente Dilma Rousseff colocou à disposição as forças nacionais para ajudar no resgate de desaparecidos.

Infográfico: Barragem se rompe em MG

OUTROS CASOS

Em 2014, um acidente na barragem da Mineradora Herculano, no dia 10 de setembro, em Itabirito (a 58 km de Belo Horizonte), deixou ao menos três trabalhadores mortos.

Na época, o rompimento da barragem provocou o deslizamento de um grande volume de rejeitos de minério e lama, que atingiu veículos da empresa e matou os funcionários.

Em 27 de maio de 2009, a barragem Algodões 1, em Cocal (282 km de Teresina), se rompeu e matou oito pessoas no Piauí. O acidente liberou todos os 50 milhões de litros de água armazenados.

Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou na época que a barragem Algodões 1 estava sem manutenção havia cinco anos.

Cinco anos antes, uma inundação decorrente de um vazamento na Barragem de Camará (152 km a oeste de João Pessoa, na Paraíba) matou ao menos três pessoas, duas em Alagoa Grande e uma em Mulungu, além de deixar outras 1.600 desabrigadas nos dois municípios.

Os municípios mais atingidos pela enchente -Alagoa Grande e Mulungu- ficam rio abaixo logo depois da barragem, na região do Estado conhecida como "brejo" -que divide o litoral do sertão.

Alagoa Nova, onde fica a barragem, teve poucos estragos em casas na zona rural, pois a construção fica na parte baixa da cidade.

Araçagi, Alagoinha, Mamanguape e Rio Tinto, as duas últimas já localizadas próximo ao litoral paraibano, também sofreram transtornos.


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