Folha de S. Paulo


Barragem de mineradora se rompe em MG e deixa 1 morto e desaparecidos

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Um "tsunami de lama" destruiu centenas de casas, arrastou carros e caminhões e deixou ao menos um morto e cerca de 25 desaparecidos nesta quinta (5), num subdistrito da cidade histórica de Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), após duas barragens de uma mineradora se romperem.

O acidente ocorreu por volta das 15h30, em Bento Rodrigues, a 15 km do centro de Mariana. A vila, que tem 121 casas e 492 moradores, segundo o IBGE, foi totalmente inundada pela lama. Quatro helicópteros foram enviados ao local para resgatar moradores que ficaram ilhados.

Editoria de Arte/Folhapress

Com a força da lama, um carro chegou a parar em cima do muro de uma casa.

Na hora do rompimento, um funcionário da empresa Samarco, responsável pela barragem de contenção de rejeitos, morreu no local. Sofreu uma parada cardíaca, segundo Sérgio de Moura, diretor do Metabase (sindicato dos trabalhadores na indústria de mineração de Mariana).

Segundo Moura, a Samarco disse que houve abalos sísmicos na região às 14h. O observatório da USP registrou, a 22 km do local, tremor de 2,55 na escala Richter, mas considerado de baixo impacto (com até 3 na escala, nem costuma ser sentido pelas pessoas). O rompimento ocorreu uma hora e meia depois.

De 25 a 30 funcionários estavam no local. Sete carros dos bombeiros de Belo Horizonte, dois de Ouro Preto e helicópteros com cães farejadores foram enviados a Mariana, que foi isolada. A cidade não possui bombeiros militares, apenas civis.

A prefeitura preparou um ginásio esportivo e o prédio de um colégio profissionalizante para os desabrigados.

"Ao menos 30 pessoas estavam no local na hora do acidente, mas não dá pra saber se há mortos. Falar em números agora é precipitado. As cenas são trágicas, foi uma tragédia que aconteceu na nossa cidade", diz o jornalista Roberto Verona, 50, que passou pelo local logo após o rompimento da barragem. Segundo ele, onde se vê agora lama e água havia uma área de reflorestamento.

Na noite desta quinta, o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, lamentou, em vídeo divulgado na internet, o acidente. Segundo ele, ainda não era possível confirmar as causas e a extensão do ocorrido. A empresa afirma ter se mobilizado para atender as pessoas e mitigar os danos ambientais.

Bombeiros de BH e Ouro Preto dizem que a empresa checou o total de funcionários resgatados e 15 não foram localizados até a noite desta quinta. Familiares se reuniram no Hospital Monsenhor Horta atrás de notícias.

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Após uma vistoria, a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas) concluiu que o caso não afetou nenhum manancial que compõe a bacia do Rio das Velhas, um dos sistemas que abastece a região metropolitana de BH. O monitoramento vai continuar.

O Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito, conduzido por cinco promotores, para apurar as causas e responsabilidades. Segundo o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, é prematuro tirar conclusões, mas ele descarta se tratar de um "acaso". "Nenhuma barragem se rompe por acaso, isso não é uma fatalidade. Precisamos de rigor nesta apuração."

O Ministério Público enviou uma equipe de técnicos para avaliar o impacto do rompimento. A Secretaria de Meio Ambiente de Minas diz que a última licença para a barragem havia sido concedida em 2013 e que problemas não foram encontrados à época.

A presidente Dilma Rousseff colocou à disposição as forças nacionais para ajudar no resgate de desaparecidos.

Infográfico: Barragem se rompe em MG

OUTROS CASOS

Em 2014, um acidente na barragem da Mineradora Herculano, no dia 10 de setembro, em Itabirito (a 58 km de Belo Horizonte), deixou ao menos três trabalhadores mortos.

Na época, o rompimento da barragem provocou o deslizamento de um grande volume de rejeitos de minério e lama, que atingiu veículos da empresa e matou os funcionários.

Em 27 de maio de 2009, a barragem Algodões 1, em Cocal (282 km de Teresina), se rompeu e matou oito pessoas no Piauí. O acidente liberou todos os 50 milhões de litros de água armazenados.

Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou na época que a barragem Algodões 1 estava sem manutenção havia cinco anos.

Cinco anos antes, uma inundação decorrente de um vazamento na Barragem de Camará (152 km a oeste de João Pessoa, na Paraíba) matou ao menos três pessoas, duas em Alagoa Grande e uma em Mulungu, além de deixar outras 1.600 desabrigadas nos dois municípios.

Os municípios mais atingidos pela enchente -Alagoa Grande e Mulungu- ficam rio abaixo logo depois da barragem, na região do Estado conhecida como "brejo" -que divide o litoral do sertão.

Alagoa Nova, onde fica a barragem, teve poucos estragos em casas na zona rural, pois a construção fica na parte baixa da cidade.

Araçagi, Alagoinha, Mamanguape e Rio Tinto, as duas últimas já localizadas próximo ao litoral paraibano, também sofreram transtornos.


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