Folha de S. Paulo


Lorenzo, um ano e cinco meses, mata cobra com mordidas no Sul

Lorenzo, um ano e cinco meses, mordeu a cobra e gostou. A mãe, Jaíne, ao ver que o menino, com sangue na boca e nas mãos, segurava um réptil de verdade na sala de casa, gritou desesperada pelo marido. Lucier, o pai, retirou imediatamente das mãos do guri o "brinquedo" achado no quintal e o guardou num frasco de vidro.

Por volta das 13h40 deste domingo (1º), o casal Lucier de Souza, 22, e Jaíne Ferreira Figueira, 19, levou o filho Lorenzo ao hospital São Luiz, em Mostardas (a 175 km de Porto Alegre), onde a família vive no litoral gaúcho. Jaíne já havia limpado o sangue no garoto.

"O pai estava muito assustado e falou que o filho dele tinha mordido uma cobra. A gente até brincou: 'Não, a cobra que mordeu o teu filho'", conta Patrícia Martins, 32, enfermeira.

Mostrando o réptil dentro do pote de vidro, Lucier insistiu: "Não, o meu filho é que mordeu a cobra". Ele trazia, aberta no aparelho celular, uma foto, encontrada na internet, de uma cobra, que mostrava à equipe do hospital comparando-a com o bicho preso no frasco.

Lorenzo foi examinado. "Não havia nenhum sinal de que a cobra tivesse picado a criança, mas o doutor Gilmar [Carteri] ligou para o Centro de Informação Toxicológica do Estado, e a orientação foi que a criança ficasse em observação por duas horas", conta a enfermeira.

Um exame de sangue foi feito e nenhuma alteração foi constatada. Lorenzo recebeu alta ainda no domingo. Jaíne, estudante do terceiro ano do ensino médio, passou a segunda-feira (2) atendendo ligações de jornalistas e recebendo repórteres em casa. Perdeu a conta de quantas vezes repetiu a mesma história.

Como de costume, Lorenzo foi brincar no quintal na frente de casa. "Ele estava muito quieto. Eu saí do quarto para ver o que ele estava fazendo, e ele já estava na sala, agarrado na cobra, colocando-a na boca, faceiro, como se fosse um brinquedo", lembra.

Depois do susto, ela viu que Lorenzo não tinha nenhum ferimento. "Mas fiquei preocupada de ele estar intoxicado." Lucier, operador de gerador a vapor, pesquisou na internet e achou a foto de uma "cobra verde, peçonhenta, que tem um dente bem no meio no maxilar, uma presa só, que é bem afiada" e também ficou preocupado.

Noticiou-se que era um filhote de jararaca, uma serpente sul-americana extremamente venenosa. A pedido da Folha, o pesquisador do Instituto Butantan Carlos Jared, especializado em répteis e anfíbios, viu a imagem da cobra mordida pelo menino e afirma não ser uma jararaca. "Diria que é um colubrídeo, família de cobras consideradas não-peçonhentas, tipo cobra-cipó, parelheira."

Sendo ou não jararaca, a família já pensa em reforçar a segurança do quintal e aparar um pouco a grama. "O Lucier vai colocar uma cerca, porque o Lorenzo é rebelde. Tudo ele coloca na boca, a gente tenta evitar objeto pequeno perto dele. Ele é bem 'arteirinho'", conta a mãe.

A cobra mordida por Lorenzo não resistiu aos ferimentos e morreu, segundo Jaíne, antes de chegar ao hospital. "Ela realmente tem a marca dos dentinhos da criança", conta a enfermeira.


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