Folha de S. Paulo


Abraçado pela China, monotrilho é secundário nos EUA e na Europa

Entusiastas do monotrilho costumam lembrar que a linha mais antiga do mundo com essa tecnologia fica na Alemanha —como um sinal de que o sistema é viável e aprovado em países ricos.

Mas o monotrilho de 13 km de Wuppertal, inaugurado em 1901, nunca foi expandido para formar uma rede e é visto mais como atração turística.

Das linhas existentes no Primeiro Mundo, a maior parte serve a parques ou aeroportos, é curta e transporta poucas pessoas em relação ao metrô convencional.

A exceção é o Japão, onde os trens de trilho único estão presentes em dez cidades e são encarados como parte da rede de transporte público.

Na Europa, os planejadores preferem o VLT (veículo leve sobre trilhos), espécie de bonde moderno. Nos Estados Unidos, o mais comum são monotrilhos para ligar terminais de aeroportos ou centros de lazer —como o parque da Disney, na Flórida.

Comparativo dos meios de transporte

Os críticos dizem que o monotrilho tem poucas vantagens em relação a outros meios, além de causar grande impacto na paisagem urbana. Vizinhos das obras em São Paulo frequentemente dizem temer um "efeito Minhocão" —referência à degradação embaixo da via elevada no centro da capital paulista.

Apontam ainda que a desativação de linhas de monotrilho, como aconteceu em Sydney, na Austrália, é um sinal das deficiências do modal.

Inaugurada em 1988, a linha de 3,6 km parou de circular em 2013, sob a justificativa de que era pouco usada e de que os custos operacionais para mantê-la funcionando não valiam a pena.

Dezenas de outros projetos anunciados acabaram engavetados após estudos de viabilidade, como os dos monotrilhos de Jacarta (Indonésia), Bancoc (Tailândia), Johanesburgo (África do Sul) e Teerã (Irã). Alguns foram abandonados mesmo depois de as obras serem iniciadas.

No Brasil, também não avançou a proposta de fazer um monotrilho em Manaus a tempo da Copa de 2014.

"Infelizmente, o monotrilho não cumpriu sua promessa. Em vez de inaugurar uma nova era de transporte público rápido e limpo, sua história tem sido a de linhas limitadas e financeiramente insustentáveis", afirma relatório do ITDP, entidade de Nova York que estuda transporte e desenvolvimento.

Monotrilhos pelo mundoo

Os defensores do modelo dizem que, bem planejados e executados, os monotrilhos são a saída mais rápida para expandir a rede de transporte. Por isso, fabricantes concentram esforços nos países em desenvolvimento.

O maior exemplo é na cidade chinesa de Chongqing, que conseguiu inaugurar duas linhas, com mais de 80 km, em menos de dez anos.

"Só porque a Europa não usa monotrilho não significa que é uma má ideia. Todo sistema ferroviário tem desafios. As linhas de São Paulo ainda estarão prontas em menos tempo do que um metrô, por muito menos dinheiro", diz Kim Pedersen, da Monorail Society, entidade que reúne entusiastas do modal.


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