Folha de S. Paulo


Guarda Municipal agride moradores do centro histórico de Salvador

Moradores do centro histórico de Salvador foram agredidos por guardas municipais na tarde desta sexta-feira (2) numa ação da prefeitura para derrubada de um muro.

A ação aconteceu na ladeira da Preguiça, onde casas foram demolidas pela administração em maio deste ano após as fortes chuvas e deslizamentos de terra que mataram 21 pessoas na capital baiana.

Em um vídeo feito por uma moradora e obtido pela Folha, é possível ver um dos guardas municipais dando golpes com cassetete em um dos dois homens já caídos no chão.

Uma mulher recebe um jato de spray de pimenta nos olhos ao tentar se aproximar de um dos homens que estava sendo atacado. Moradores reagiram chamando os guardas municipais de covardes.

Veja vídeo

Em nota, a Guarda Municipal alega que um dos agentes foi agredido com um soco por um homem que teria tentado impedir a demolição.

Os agentes acompanhavam uma equipe da secretaria de Urbanismo que foi ao local para demolir um muro construído numa área de propriedade da Santa Casa de Misericórdia.

A construção foi feita por um morador que teve o muro ao lado de sua casa demolido em maio pela prefeitura. Ele quis reconstruir a parede, mas foi notificado.

Moradores da ladeira criticaram a ação dos agentes da prefeitura, classificando-a de "truculenta" e "arbitrária".

"A prefeitura não conversa com a população e acha que pode fazer o que quer. Estão varrendo a população negra e pobre do centro histórico como se fosse lixo", diz a moradora Eliana Silva.

O secretário municipal de Urbanismo, Sílvio Pinheiro, rebate a acusação: "Não é verdade. Todas as ações fiscais são precedidas de notificações".

Após a confusão, os dois homens agredidos foram encaminhados para uma unidade de pronto atendimento e depois levados à central de flagrantes da Polícia Civil.

A ladeira da Preguiça fica em área tombada e considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, um dos braços da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em abril e maio deste ano, 31 imóveis, dois deles tombados, foram demolidos no centro histórico pela gestão ACM Neto (DEM), que alegou risco de desabamento. Entidades de arquitetos reagiram pedindo a inclusão do casario de Salvador na lista de patrimônios ameaçados.

OUTRO LADO

A secretaria municipal de Urbanismo informou que o responsável pela construção do muro havia sido notificado cerca de 20 dias atrás.

Como o morador não desfez a construção irregular, fiscais da secretaria foram ao local fazer a demolição, "conforme previsto no Código de Obras do Município".

"Esse muro ultrapassava os limites do imóvel e tinha que ser demolido", diz o secretário Sílvio Pinheiro.

A Superintendência de Segurança Urbana e Prevenção à Violência diz que vai apurar se houve abuso dos agentes da Guarda Municipal envolvidos na operação.


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