Folha de S. Paulo


Para treinar tiros, policiais trocam barrancos por 'estande de Lego'

Saem os barrancos de terra e pilhas de madeira, ainda dos tempos da descoberta da pólvora, e entram os estandes de tiro ecologicamente corretos do "mundo Lego".

A transição começou na tarde de segunda-feira (28) em Campinas (a 93 km de SP), com a inauguração do estande de tiros "modular ecológico", que deve ser adotado por polícias de oito Estados, incluindo de São Paulo.

Ao todo, 30 projetos foram encomendados —quatro deles contratados.

A comparação com o brinquedo de montar ocorre pela possibilidade de o estande ser desencaixado, levado para outro lugar e reconstruído de forma diferente, sem a necessidade de grandes obras.

"É o tiro Lego", brinca o secretário municipal de Segurança de Campinas, Luiz Augusto Baggio, durante a inauguração do local que deve ser usado para treinamento dos 758 guardas da cidade.

A desmontagem do estande é possível graças à utilização de contêineres, como grandes blocos, nas principais estruturas.

Os contêineres são os mesmos usados no transporte de cargas e que seriam descartados —um dos pontos ecologicamente corretos do modelo.

O estante também utiliza um sistema de frenagem de munições feito com borrachas picadas que também seriam jogadas fora, como as de pneus de caminhão.

Esse sistema de frenagem é, segundo os criadores, umas das principais vantagens do modelo. Ao reter as munições num "para-balas", ele evita a contaminação de chumbo no solo e nos lençóis freáticos, algo comum nos treinamentos em barrancos.

Cada agente de segurança no país atira em torno de 120 vezes por ano nas aulas de reciclagem obrigatórias. Isso significa cerca de 1,5 kg de chumbo descartados.

Num país com um efetivo estimado de 680 mil pessoas —entre PM, Civil e guardas—, além dos cerca de 1 milhão de seguranças particulares, são 2,2 mil toneladas de chumbo despejadas no ambiente.

"Essa é uma parte dos treinamentos em que ninguém pensava", diz o engenheiro Felipe Eduardo, da Safety Wall, criador do estande.

O custo do modelo inaugurado em Campinas é de cerca de R$ 500 mil —20% do valor de um estande importado, que, diz o engenheiro, não é tão eficaz quanto o brasileiro.


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