Folha de S. Paulo


Chefe de presídios de SP deixa cargo após revelação de ganho milionário

O servidor paulista Hugo Berni Neto deixou o cargo de coordenador de presídios da Grande São Paulo na noite desta terça-feira (29).

A saída ocorreu após a Folha revelar que a empresa da qual Berni Neto é sócio, a Midas Empreendimentos, saiu do zero e construiu, em dois anos, 12 casas em condomínios de alto padrão de Sorocaba (SP). No total, os imóveis são avaliados em mais de R$ 7 milhões, o equivalente a 32 anos de seu salário (de R$ 18 mil mensais).

Segundo o governo paulista, o servidor colocou o cargo à disposição. O pedido foi aceito de imediato pelo secretário Lourival Gomes (Administração Penitenciária).

Mais cedo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia determinado às corregedorias do Estado e da secretaria que investigassem o funcionário por suspeita de enriquecimento ilícito.

"Se ficar comprovado que houve qualquer desvio, é punição exemplar. Serviço público, o nome já diz, é para servir as pessoas, não é para enriquecimento pessoal", disse o governador.

Berni Neto era responsável por 28 unidades prisionais. Entre outras funções, cuidava de licitações milionárias da Secretaria Estadual da Administração Penitenciária.

"Se ficar comprovado, responde criminalmente, vai ser preso, responde civilmente e vai devolver o dinheiro. É isso que tem que fazer", completou Alckmin.

Na coordenação de presídios desde 2006, o servidor se associou há dois anos à irmã, Rita de Cássia Berni, na empresa que funciona como imobiliária, construtora e incorporadora.

Os preços das unidades construídas pelo grupo variam de R$ 650 mil a R$ 900 mil. A Midas Empreendimentos mantém ainda em andamento obras de um condomínio inteiro, com 24 casas, que podem alcançar um valor de mercado de R$ 15 milhões.

O Ministério Público também investigará o servidor.

A Promotoria do Patrimônio Público já apura a suspeita de superfaturamento em uma licitação autorizada pelo órgão da secretaria chefiado por Berni Neto.

A empresa suspeita é a Geraldo J Coan, que, no episódio conhecido como "máfia da merenda", foi acusada de pagar propina para fechar negócios com municípios.

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) também reprovou, em 2010, um contrato sem licitação que teve o servidor como responsável. O negócio de cerca de R$ 1,2 milhão, para a alimentação de detentos da Penitenciária 2 de Itapetininga, foi também firmado com a Geraldo J Coan.

OUTRO LADO

Em entrevista à Folha publicada nesta terça, Berni Neto disse que o capital da empresa não tem relação com seu trabalho no governo.

Sem dar detalhes, ele disse que o patrimônio é fruto de um "remanejamento" financeiro de outras duas empresas de sua família.

No entanto, ele disse não poder "aparecer" como dono da empresa, oficialmente administrada pela irmã, por atuar no governo.

Servidor público que agora deixa cargo comissionado, ele também negou irregularidades nas licitações e disse que se defenderia à Promotoria "no momento oportuno".

Na última semana, Berni Neto tentou na Justiça impedir, por meio de liminar, a publicação da reportagem desta terça pela Folha. O pedido, no entanto, foi negado.


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