Folha de S. Paulo


Polícia investiga 'serial killer' em favela na zona sul de São Paulo

O corpo de uma travesti surda e muda de 21 anos, outros três cadáveres e uma ossada foram encontrados enterrados na casa de um pintor de paredes na tarde de sábado (26), na favela Alba, no Jabaquara, zona sul de São Paulo.

A polícia acredita que Jorge Luiz Morais de Oliveira, 41, seja um assassino em série. Ele foi preso em flagrante e confessou apenas a morte de Carlos Neto Alves de Matos Júnior, a travesti. A polícia encontrou escondidos na casa dele facas e um soco inglês sujos de sangue, assim como roupas femininas e um lençol manchados.

Com ferimentos de faca no braço e na coxa, o suspeito alegou que matou em legítima defesa. Ele disse que Júnior e outro homossexual foram à sua casa na tarde de quarta-feira (23) e, como ele se recusou a fazer sexo com eles, foi atacado. Mas conseguiu tomar a faca que Matos Júnior portava e o matou.

A história, entretanto, foi desmentida pela mãe e irmã do pintor, que moram na casa em frente a dele. Elas disseram que a travesti, acompanhado de um amigo, chamavam por uma vizinha do pintor. Ele, então, pediu que os dois entrassem em sua casa para chamar a vizinha pelo muro do quintal.

As familiares relataram terem ouvidos gritos depois e viram o momento em que o acompanhante de Matos Júnior escapou correndo.

Oliveira fugiu após o crime, na quarta, e só reapareceu no sábado, após a mãe chamar a PM e ligar para ele, propondo que lhe contasse pessoalmente o que de fato aconteceu.

Na casa do pintor, havia um rastro de sangue do quintal ao quarto, onde o piso estava quebrado. A polícia desconfiou e cavou no local, onde encontrou o corpo da travesti. Oliveira disse, segundo a polícia, que ficou desesperado e resolveu ocultar o corpo.

No momento em que o acusado era algemado, policiais suspeitaram do chão do quintal, que estava com piso diferente do restante. Eles cavaram e encontraram mais três corpos e uma ossada. Nenhum foi identificado.

Um celular encontrado na casa de Oliveira foi reconhecido como sendo de uma mulher que está desaparecida há um mês.

A reportagem não localizou a defesa do pintor até a noite de ontem.

MORTOS A FACADAS

A polícia já sabe que os outros três corpos encontrados na casa de Oliveira eram de homens e também tinha ferimentos de facadas. Resta saber se os alvos do pintor eram homossexuais, como também era Carlos Júnior.

Perícia inicial aponta que os corpos estavam enterrados há, no máximo, um mês. Exames devem ser feitos para detalhar a data das mortes.

Oliveira já tinha antecedente criminal por homicídio, segundo os policiais. Morava na favela há mais de dez anos e nunca foi casado.

CASA DESTRUÍDA

Moradores da favela Alba destruíram no domingo (27) a casa de Oliveira a marretadas e pedradas depois que o trabalho da perícia foi encerrado e a polícia saiu do local. Eles se diziam revoltados.

Um grupo de aproximadamente 50 moradores arrombou o portão e começou a derrubar paredes e quebrar móveis e eletrodomésticos dentro do local.

"Isso é para acabar com a chance desse vagabundo voltar a morar aqui depois. Estamos indignados, não queremos mais esse monstro aqui", disse a doméstica Márcia Ferro, 48.

Para evitar conflito, a mãe e irmã do acusado também deixaram a casa onde moravam e estão em local desconhecido. Segundo vizinhos, a idosa ficou bastante abalada com a história, pois acreditava na recuperação do filho após ele ter sido preso.

"O filho era bom para ela. Tinha problemas com drogas, bebidas, mas ajudava em casa com dinheiro. Só era fechado, não queria saber de namorar. Ela achava estranho, mas suportava", disse uma moradora da mesma rua, que preferiu não se identificar.


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