Folha de S. Paulo


Entidades criticam prêmio de gestão de água a governador Alckmin

Entidades reagiram à premiação que será dada pela Câmara dos Deputados ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pela gestão de saneamento e recursos hídricos no Estado.

Alckmin foi indicado pelo deputado federal João Paulo Papa, também do PSDB, ao prêmio "Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação", apesar de milhares de pessoas viverem há um ano e meio sob forte racionamento. Essa será a primeira edição do prêmio.

Édison Carlos, do Instituto Trata Brasil, reconhece que o estado de São Paulo é o mais avançado em saneamento (justificativa dada para a concessão ao prêmio), mas, segundo ele, nenhum Estado brasileiro deveria ser premiado, já que todos estão muito longe de níveis satisfatórios de saneamento. São Paulo, inclusive, não trata nem metade de seu esgoto. Édison disse acreditar que o momento para o prêmio é "inoportuno".

Para Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, o prêmio é "equivocado" diante do momento vivido pelo Estado. "Acredito que a repercussão foi mais negativa do que positiva para o governador", diz ele.

Já para Carlos Thadeu, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a escolha de Alckmin para a premiação é um "acinte", diante da atual crise hídrica em São Paulo. "Milhares de pessoas passam por graves casos de falta de água e o governador é premiado. Não faz sentido", questiona.

O presidente do sindicato dos funcionários da Sabesp, Renê Vicente, diz acreditar que o prêmio foi dado ao governador para dar visibilidade a Alckmin. "Não é hora de receber prêmio, mas de trabalhar para livrar São Paulo do risco de colapso de seus reservatórios".

Renê ainda diz achar estranho que o deputado que indicou o governador paulista ao prêmio tenha sido um ex-integrante da Sabesp.

"Parece uma autopromoção, já que o prêmio advém de alguém que era do seio da administração da Sabesp", argumenta.

JUSTIFICATIVAS

Segundo o deputado João Paulo Papa, Alckmin foi escolhido por causa dos avanços de São Paulo, nos últimos anos, para atingir a universalização do saneamento. Para ele, esses avanços estão acima da média em relação ao resto do país.

Papa afirma também que a atual crise hídrica em São Paulo apenas joga luz no esforço do governador em relação ao saneamento básico. Após a indicação do deputado, Alckmin foi eleito de maneira unânime pelos parlamentares membros da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara.

Karime Xavier/Folhapress
Secretário estadual de Recursos Hídricos, Benedito Braga, defende gestão da crise hídrica
Secretário estadual de Recursos Hídricos, Benedito Braga, defende gestão da crise hídrica em SP

Na noite desta terça-feira (22), o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, divulgou nota defendendo as iniciativas tomadas pelo governo Alckmin no enfrentamento da crise hídrica.

"Posso afirmar com convicção que a condução da crise por parte do Governo de São Paulo e da Sabesp foi absolutamente irrepreensível, dentro dos mais rigorosos padrões técnicos", defendeu Braga.

OBRAS

Para tentar contornar a crise, o governo do Estado tirou do papel uma série de projetos de infraestrutura. O mais urgente é a retirada de água da represa do Rio Grande (que está cheio) para carregar o sistema Alto Tietê (que está agonizando). Contudo, essa obra prometida por Alckmin para maio só deve ser entregue no fim deste mês.

Além do atraso, a obra enfrenta questionamentos de ONGs e ambientalistas, já que houve um abrandamento do rito ambiental. Para se ter uma ideia, durante o mês de agosto, a gestão tucana pediu que o Conselho Estadual do Meio Ambiente apreciasse em rito "especial" os documentos de obras já inauguradas. "Os estudos de impacto servem justamente para avaliar que medidas poderiam evitar e minimizar danos. Por isso, o licenciamento não pode ser posterior à obra", diz o oceanógrafo Fabrício Gandini.

A Cetesb (companhia ambiental estadual) que também integra o conjunto de entidades oficiais que liberam uma obra nega que tenha abrandado os licenciamentos ambientais.

Em março de 2015, o próprio secretário de recursos hídricos disse à FOLHA que não foram respeitados os ritos ambientais na construção de obras emergenciais.


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