Folha de S. Paulo


Sem obra antisseca, Itu volta a estocar água até em piscina

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
O administrador Roberto Nunes Jr. e a piscina que comprou para armazenar água para a família, no centro de Itu, interior de SP
O administrador Roberto Nunes Jr. e a piscina que comprou para armazenar água para a família

Nunca faltou água na casa de Maria Marques, 52, em São Luís (MA). Mas bastou ela deixar o Nordeste e se mudar para Itu, no interior paulista, em agosto, para ver as torneiras secarem durante o dia.

Em 2014, as filas de baldes em torno de caminhões-pipa e de bicas transformaram a cidade em um símbolo da crise hídrica no Sudeste.

Passado um ano do auge dos protestos de moradores, com vereadores atingidos por ovos e ruas bloqueadas com pneus queimados, ainda é possível ver nos quintais tambores, caixas-d'água e piscinas adquiridas em 2014.

Moradores relataram à Folha que usaram os recipientes, especialmente em agosto, porque há cortes no abastecimento da manhã até as 19h.

Mesmo com a experiência traumática de 2014, uma adutora, que seria a principal obra para afastar o fantasma do racionamento e deveria estar pronta desde o início do ano, ainda não foi entregue.

O risco é real: com o tempo seco, a Águas de Itu, empresa responsável pelo abastecimento, chegou a admitir a possibilidade de novo racionamento ainda neste mês.

As chuvas na semana passada, porém, afastaram a ideia por ora. O novo prazo de entrega da adutora é outubro.

'KIT-SEDE DO ITUANO'

Reservatórios insuficientes e carência de chuvas provocaram dez meses de racionamento em Itu em 2014.

O Jardim União, bairro da maranhense Maria Marques, esteve entre os mais afetados. Neste ano, o problema segue presente, e ela vive dias secos.

Em agosto, em uma semana inteira faltou água desde a manhã até as 19h, e a cena tem se repetido este mês.

A caixa-d'água é pequena para os 14 moradores da casa. Sem tomar banho, os netos dela faltaram à escola.

Ciente do sofrimento dos vizinhos em 2014, ela também quer se precaver. "Quando sobrar dinheiro, vou comprar baldes e caixa-d'água."

Na padaria Cidade Nova, no bairro de mesmo nome, um caminhão-pipa foi acionado no início do mês.

"A gente instalou três caixas grandes em 2014, mas [neste ano] a água da rua chega fraquinha e nem consegue enchê-las", diz o encarregado Marcelo Galileu, 43.

No mesmo bairro, a família de Robson Medeiros, 24, voltou a encher a piscina inflável para estocar água. "Minha mãe fica acordada de madrugada para esperar pela água e lavar roupa", conta.

Também Nelma Rocha, 53, do centro, precisou apelar para o que chama de "kit-sede do ituano". Encheu uma das duas piscinas de 2.400 litros, compradas no ano passado.

Às 13h da última segunda-feira (21), quando a reportagem visitou sua lanchonete, a torneira estava seca. "É uma forma de racionamento, disfarçado." Em 2014, a Folha acompanhou um caminhão-pipa enchendo uma piscina inflável para reservar água na casa de Roberto Nunes Junior, 44.

Precavido, neste mês ele já tirou a piscina da caixa. "Não fizeram nada. A chuva até veio, mas, sem reservatório, a água se foi. Itu ficará sem água em dezembro", diz.


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