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Salvador vive explosão de casos de roubo com morte e violência

Marco Aurélio Martins/Ag. A Tarde/Folhapress
De janeiro a agosto deste ano, 45 pessoas foram vítimas de roubo seguido de morte em Salvador
De janeiro a agosto deste ano, 45 pessoas foram vítimas de roubo seguido de morte em Salvador

Felipe Rauta Cabral, 25, estava animado e cheio de planos: depois de se formar em administração, embarcaria no mês que vem para fazer uma pós-graduação na Holanda.

Mas, no início de agosto, o jovem foi assassinado na porta da casa de uma amiga, em um bairro nobre de Salvador, por dois homens que roubaram seu carro.

Duas semanas depois, a estudante de medicina Marianna Teles, 22, foi assaltada e morta no bairro do Costa Azul, diante do prédio do namorado, a poucos quilômetros de onde Felipe morreu.

Os casos não são pontuais. De janeiro a agosto deste ano, outras 43 pessoas foram vítimas de roubo seguido de morte em Salvador.

Enquanto o governo baiano comemora uma redução no número de assassinatos nos últimos três anos, a maioria ligada ao tráfico, dados da Secretaria de Segurança da Bahia mostram um avanço nos casos de pessoas feridas ou mortas devido à ação de assaltantes.

Em 2011, foram assassinadas 18 pessoas após assaltos, ante 50 em 2014. Este ano, somente até agosto, já são 45.

Os chamados roubos qualificados, em que as vítimas são feridas, também cresceram: foram 1.704 casos em 2012 ante 4.845 no ano passado. Este ano, até agosto, há registros de 3.439 vítimas.

"A gente nunca espera que uma situação dessa venha bater à porta. Perdi um filho de forma trágica e estou vendo a minha e outras famílias serem desestruturadas em casos semelhantes", afirma o empresário Amaro Jorge Cabral, pai de Felipe.

A situação também preocupa o setor de turismo, um dos principais motores econômicos da capital baiana. Em abril deste ano, um espanhol foi morto depois de ser assaltado na saída de um restaurante no bairro de Itapuã.

EFEITO CRACK

Ao mesmo tempo em que se tornam mais violentos, os roubos têm sido mais recorrentes em Salvador. Entre 2011 e 2014, saltaram de 30.074 para 38.745, um avanço de 30%.

No período, caiu o número de assaltos a residências, estabelecimentos comerciais e "saidinhas" de banco. Mas cresceram os roubos a ônibus, veículos e pedestres.

Para o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, o crescimento dos roubos é um fenômeno nacional, e o aumento da violência dos bandidos está relacionado ao consumo de drogas, como o crack.

"São pessoas que se drogam para assaltar e assaltam para se drogar", diz Barbosa, que aponta os telefones celulares como principal alvo dos bandidos por serem facilmente revendidos.

Para conter esse cenário, Barbosa afirma que tem reforçado as investigações para identificar receptadores de produtos roubados.

O secretário aponta ainda mudanças recentes no sistema legal como um incentivo à reincidência de criminosos.

A principal delas, segundo ele, foi a substituição de prisões preventivas por fiança ou por penas como restrição para frequentar certos locais –que visam reduzir o número de presos em delegacias.

"Já chegamos a prender pessoas que faziam dez assaltos a ônibus por dia. É um bandido que sabe que é pequena a hipótese de ele permanecer preso por roubo."

Coordenador do observatório de segurança pública da Unifacs (Universidade Salvador), Carlos Costa Gomes vê a impunidade como principal motor para avanço dos crimes. Dados levantados pelo observatório mostram que, das 227 mil ocorrências policiais registradas na Bahia em 2009, só 32 mil foram investigadas e 7.000 resultaram na denúncia do suspeito.

"É preciso investir em inteligência e investigação", diz.

Amaro Cabral, que perdeu o filho há pouco mais de um mês, cobra uma ação mais rigorosa do governo e da Justiça. "Vamos lutar até as nossas últimas forças", diz, emocionado, o pai de Felipe. O autor do disparo que matou o rapaz não foi identificado.


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