Folha de S. Paulo


Com usinas ociosas, gestão Haddad fica longe da meta de reciclagem

Adriano Vizoni/Folhapress
Central de processamento de lixo de Santo Amaro (zona sul), que opera com ociosidade
Central de processamento de lixo de Santo Amaro (zona sul), que opera com ociosidade

A gestão Fernando Haddad (PT) está longe do cumprimento da meta que fixou para a reciclagem na cidade, e as usinas de processamento de lixo estão subutilizadas.

A promessa do prefeito é ampliar de 1% para 10% a proporção de lixo produzido reciclado até 2016 –índice que se limitava a 2,5% em julho.

Na gestão Haddad, foram inauguradas duas centrais mecanizadas de triagem, que aumentaram a capacidade de processamento dos materiais –para 750 toneladas por dia.

No entanto, mesmo com a ampliação da coleta de lixo porta a porta, a capital paulista não está processando nem um terço disso.

Veja infográfico

A prefeitura argumenta que ainda há baixa adesão e que há empresas clandestinas que furtam os materiais separados pela população.

O resultado é que as duas centrais de processamento de lixo, uma em Santo Amaro (zona sul) e outra na Ponte Pequena (região central), operam com grande ociosidade.

Na última sexta-feira (18), por exemplo, a Folha esteve na usina de Santo Amaro e, às 15h40, os equipamentos já estavam limpos e não havia mais ninguém trabalhando.

O cumprimento da meta da gestão petista esbarra no fato de a prefeitura ainda não ter universalizado a coleta porta a porta e a população não aderir em massa ao programa.

Hoje, dos 96 distritos da cidade, 46 têm a coleta seletiva universalizada, 39 parcial e 11, não dispõem do serviço.

Nos locais sem coleta, a orientação da prefeitura é descartar os recicláveis em um dos ecopontos ou postos de entrega voluntária.

Adriano Vizoni/Folhapress
Central de processamento de lixo de Santo Amaro (zona sul), que opera com ociosidade
Central de processamento de lixo de Santo Amaro (zona sul), que opera com ociosidade

"O ponto de entrega mais perto de casa na minha região fica a dois quilômetros. E eles acham perto", diz a veterinária Fernanda Jordão Affonso, 28, que faz a separação do lixo em um tonel e leva a uma cooperativa de catadores.

Moradora da Vila Oratório (zona leste), ela diz sentir que bairros mais nobres são privilegiados com mais ruas incluídas na coleta porta a porta e mais postos de entrega. "Fico com raiva. Na Vila Madalena [zona oeste], em uma rua tem cinco postos."

A arquiteta e consultora ambiental Verônica Polzer, 34, conta que a coleta seletiva só chegou em sua rua, em Pinheiros (zona oeste), após reclamações de moradores. Mesmo assim, ainda há casos em que os caminhões não passam e os recicláveis acabam no lixo comum.

Especialista em resíduos sólidos, ela afirma ter ido até a Suécia estudar esse assunto. "Lá não tem coleta porta a porta, mas a legislação obriga a existir um posto de entrega a cada 300 metros." O resultado, diz, é que 48% dos resíduos vão para a reciclagem ou compostagem.

Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, cobra iniciativas para engajar a sociedade na coleta seletiva –por meio de escolas, associações comunitárias e igrejas.

"O governo habituou-se a uma zona de conforto, apenas anuncia as coisas ou instala, mas não trabalha ativamente para que haja transformação. Não adianta colocar um postinho para entrega e pronto."


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