Folha de S. Paulo


Reflexos de terremoto no Chile são sentidos na cidade de São Paulo

Eduardo Anizelli/Folhapress
Prédio da Anhembi Morumbi na Paulista, onde alunos saíram das aulas devido ao tremor
Prédio da Anhembi Morumbi na av. Paulista, onde alunos saíram das aulas devido ao tremor em SP

Reflexos de um terremoto de magnitude 8,3, com epicentro no Chile, foram sentidos na cidade de São Paulo na noite desta quarta-feira (16). No país vizinho, ao menos uma pessoa morreu.

De acordo com a cirurgiã-dentista Simone Borges, 38, o tremor atingiu com força o prédio onde ela mora, no bairro Morro dos Ingleses, próximo à avenida Paulista.

"Moro no último andar do meu prédio, o 15º. A gente saiu de casa porque tremeu muito, meu lustre está balançando, tomei muito susto e cheguei a achar que fosse problema na estrutura do prédio", narra Simone.

"Outras amigas no WhatsApp falaram que elas tinham sentindo no prédio delas também, então não é uma coisa localizada", acrescentou a cirurgiã-dentista.

Editoria de arte/Folhapress

No Twitter, várias pessoas relataram ter sentido o abalo sísmico, principalmente na região da avenida Paulista.

Na universidade Anhembi Morumbi, altura do número 2.000 da av. Paulista, alunos do 11º e 12º andar do prédio se queixaram de tontura. Como comentaram no mesmo momento, por volta das 20h, a segurança foi acionada.

Os bombeiros informaram minutos depois que os tremores foram percebidos em outra unidade da universidade, na avenida 13 de Maio.

Alunos de marketing, Jessica, Marie e Thiago contam que a trepidação foi sentida no fundo da sala, no 11º andar. "A representante de classe foi averiguar e viu que as salas estavam vazias. Logo depois os bombeiros entraram pedindo que deixássemos a sala", conta Jessica Borges.

"Começou umas 20h20, eu tava tendo aula no 9º andar do prédio da Anhembi Morumbi. Aí eu comecei a tremer para um lado e pro outro, de leve. Achei até que fosse tontura, labirintite, mas todo mundo começou a falar que estava sentindo a mesma coisa. Foi até engraçado no começo, mas ai dois alunos ficaram meio apavorados e saíram correndo", relata Júlia Barros Mattoso, 21, aluna do terceiro ano de marketing da Anhembi Morumbi.

"Ninguém sabia o que estava acontecendo, o professor ligava na administração, que fica no ultimo andar, e ninguém atendia. Ai começaram a rolar umas mensagens nos grupos de WhatsApp de que era um terremoto no Chile, os alunos foram passando nas salas e todo mundo resolveu descer. Ai foi pânico, correria, a escada ficou lotada. Mas não teve nenhum anúncio oficial, só saíram por causa do WhatsApp mesmo", contou a estudante.

A rotina nas salas de aula da faculdade Cásper Líbero também foi afetada pelo tremor, e alguns alunos deixaram as classes após o abalo.

"Eu estava em aula quando os colegas começaram a sentir uma sensação de que algo balançava, uma espécie de tontura. Mas não houve nenhum pânico", disse a estudante Cecilia Marins, 18.

No prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na av. Paulista, um funcionário contou à reportagem que algumas funcionárias desceram, assustadas, vindas do 9º andar, após sentirem um tremor leve.

"Elas disseram que as venezianas tremeram do nada. Sentiram um tremor pequeno mesmo, mas elas saíram do prédio por precaução", afirmou um funcionário da segurança do edifício.

Os porteiros do edifício Nações Unidas, na avenida Paulista com a rua Brigadeiro Luis Antônio foram acionados por moradores do conjunto de 432 apartamentos.

"O tremor aconteceu em dois dos dez blocos" disse o porteiro Manoel Figueiredo. "Teve só uma senhora que ficou mais assustada ao ver o lustre balançar um pouco. Mas a sensação era de uma tremida fraca", disse Figueiredo, que nos 19 anos que trabalha no prédio nunca viu algo semelhante.

O Corpo de Bombeiros informou que recebeu cerca de 50 ligações referentes aos tremores na avenida Paulista, Tatuapé (zona leste), Vila Mariana (zona sul), e em Osasco e Guarulhos (ambas na Grande SP). Apesar do chamado, até as 20h não havia relato de desabamento ou feridos.

Segundo a corporação, caso tenham sentido os tremores, os moradores devem procurar por rachaduras na estrutura do edifício, evacuar prédios e acionar as Defesa Civil.

Em 2010, moradores de São Paulo e Paraná também sentiram tremores após um terremoto de 8,8 graus da escala Richter que atingiu a região central do Chile.

Na época, o professor George Sand, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, afirmou que esses reflexos são normais em casos de terremotos dessa magnitude e devem ser sentidos nas regiões mais altas e em prédios. Já o técnico Umberto José Travaglia Filho, também no observatório, o tipo de solo mais solto da região foi um dos fatores que favoreceu o aumento da amplitude do reflexo do terremoto.

Segundo a escala Richter, que mede a intensidade dos abalos sísmicos, terremotos acima de 8 graus são considerados muito fortes e podem provocar destruição total no local atingido.

Editoria de Arte/Folhapress

SANTOS

Em Santos, no litoral de SP, houve relatos de tremores em terra de moradores dos bairros Ponta da Praia, Aparecida e Embaré. A Defesa Civil do município recebeu dezenas de ligações de pessoas narrando que tiveram tontura com os tremores e que houve falha na luz.

Pelos relatos, o fenômeno durou por cinco ou seis segundos. Não houve danos a imóveis. Plantonistas da Defesa Civil explicaram aos moradores que possivelmente seria um reflexo secundário do terremoto no Chile.

CHILE

Um terremoto de magnitude 8,3 atingiu na noite desta quarta-feira (16) a região central do Chile, incluindo a capital Santiago. Diante do abalo, foi decretado alerta de tsunami na costa da região.

Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o epicentro do abalo foi registrado às 19h54 (mesmo horário em Brasília) a 8 km de profundidade, no litoral próximo a Canela Baja, na região de Coquimbo, a 293 km ao norte da capital.

Minutos depois, foram registradas duas réplicas, de magnitudes 6,2 e 6,4, na mesma região. Além de Coquimbo e Santiago, o tremor também foi sentido nas regiões chilenas de Valparaíso, Atacama, Maule e Bío-Bio.

Do lado argentino da fronteira, os moradores das províncias de Mendoza, San Juan, La Rioja e Catamarca sentiram o terremoto com mais intensidade. O aeroporto de Mendoza chegou a ser fechado. Há relatos de que o tremor foi sentido até na capital Buenos Aires.

A direção do aeroporto de Santiago informou que o terminal não interrompeu suas atividades, e o metrô da capital chilena estava com velocidade reduzida apenas por precaução.

O Escritório Oficial de Emergência (Onemi) e os Carabineiros (a polícia militar chilena) retiraram os moradores da região costeira de suas casas. O Parlamento, em Valparaíso, também foi esvaziado. As primeiras ondas do tsunami chegaram à região central e ao sul do país.

Segundo o Sistema Nacional de Alarme de Maremotos, a variação no nível das marés foi de 4,2 metros em Coquimbo, de 1,7 metro em Valparaíso e 0,8 metro em Constitución. Ainda não se sabe se as ondas provocaram danos graves.

O governo chileno convocou uma reunião de emergência. Em entrevista coletiva, o ministro do Interior, Jorge Burgos, disse que, até o momento, a única informação de danos foi de umas casas de pau à pique em Illapel, perto do epicentro.

Em Illapel, cidade a apenas 46 km do epicentro do terremoto, uma pessoa morreu. Em entrevista a uma rádio chilena, o prefeito disse que a vítima foi uma mulher de 26 anos, soterrada pela queda de um muro. Outras 15 pessoas se feriram, e a cidade ficou sem água e energia elétrica.

Ainda não há informações sobre danos, mortos e feridos pelo terremoto em outras regiões. Em 27 de fevereiro de 2010, um terremoto de magnitude 8,8 seguido por um tsunami deixou mais de mil mortos em todo o país.


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