Símbolo do tráfico de drogas da região central de São Paulo, as barracas de plástico ressurgiram na cracolândia.
A volta dessa conhecida paisagem acontece menos de quatro meses após a última operação conjunta das gestões de Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) para retirá-las.
É debaixo delas que, segundo agentes da prefeitura, traficantes e viciados se encontravam para comercializar as pedras de crack. Esse conjunto de barracos ficou conhecido como "favelinha".
Desta vez, além dos plásticos pretos, outro adereço passou a integrar o cenário: uma fileira de guarda-sóis pode ser vista no meio da rua. Debaixo deles, se faz o tráfico e são acendidos os cachimbos.
A nova favelinha está instalada a uma quadra do local onde funcionava a antiga.
Do dia 7 de agosto para cá, a ocupação vem crescendo, conforme a Folha constatou em diferentes visitas ao local.
A reportagem se deparou com carros da Guarda Civil Metropolitana em todo o entorno do fluxo –como é conhecida a aglomeração de pessoas para venda e consumo de crack nessa região.
Já policiais militares ficam em bases fixas mais afastadas e fazem rondas esporádicas, diferentemente do que ocorreu à época da operação, quando a PM mantinha carros por toda a região.
A prefeitura havia removido a favela no fim de abril. Ela estava num terreno em frente a um dos cartões postais da cidade, a estação de trem Júlio Prestes. Ali, três vezes ao dia, a prefeitura fazia uma faxina. Os barracos eram retirados e recolocados logo após a limpeza, cena que voltou a se repetir no novo endereço.
A ação foi planejada por meses, após a Secretaria de Segurança Urbana constatar que barracas escondiam o tráfico. Na ocasião, para desmontar as barracas sem retaliação de viciados, funcionários da prefeitura tiveram que dialogar com traficantes.
Outra estratégia, após a derrubada dos barracos, foi asfixiar o fluxo. Para isso, guardas-civis e PMs cercaram acessos de usuários para impedir que pessoas entrassem no local com as barracas.
Dois dias após a ação, a aglomeração de dependentes migrou para a quadra ao lado, porém, sem a favela.
À época, a administração municipal comemorou os resultados. Disse que o fluxo havia sido reduzido, já que dependentes deixaram a região ou aderiram ao programa que oferece moradia em hotéis na cracolândia e R$ 15 por dia de trabalho para tentar livrar o usuário do vício.
A troca de endereço mudou a rotina dos moradores de um prédio da região. A vista do vaivém de usuários foi para o outro lado do edifício. "Só mudou de lado. Quem sofre agora são eles", disse uma moradora, apontando para o corredor que leva ao vizinho.
OUTRO LADO
O governo paulista e a prefeitura dizem que mantêm ações permanentes para prender traficantes na região e diminuir o uso de drogas.
A Secretaria Estadual da Segurança Pública informou, por meio de nota, que o combate ao tráfico foi intensificado neste ano para prender "grandes traficantes".
"Como resultado desse trabalho das polícias, foi realizada a prisão de dez criminosos em maio", afirmou.
Ainda segundo a nota da secretaria, 211 pessoas foram presas na região neste ano.
A Polícia Militar afirma que mantém uma base comunitária e patrulhas na região.
"A secretaria reforça que o consumo de crack é um problema de saúde pública e, por isso, a PM dá suporte aos agentes sociais e de saúde que fazem o atendimento aos usuários de drogas", afirma.
Já o comandante-geral da Guarda Civil Metropolitana (GCM), Gilson Menezes, disse à Folha que barracas são removidas diariamente da alameda Dino Bueno.
"Três vezes ao dia é feita a limpeza da área, quando tiramos um caminhão de material em cada uma das ações. Não permitimos que barracas fiquem ali", disse Menezes.
Segundo ele, a GCM tem ajudado a Polícia Civil a identificar traficantes.
"Nosso trabalho é linkado com o Denarc [departamento de narcóticos da polícia], que está fazendo prisões ali", afirmou o comandante.
A prefeitura diz que o Programa Braços Abertos ajudou a reduzir o fluxo de usuários de drogas na região para cerca de 50 pessoas, após a operação. Só na tarde desta quinta (27), porém, a reportagem contabilizou ao menos cerca de 100 pessoas na região.
Segundo a gestão, 505 dependentes estão cadastrados no programa atualmente.
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CONTRA O CRACK - PROJETOS EM SP
DE BRAÇOS ABERTOS (Prefeitura de SP)
Implantação
jan.2014
O que oferece
Moradia em sete hotéis da região da cracolândia, três refeições diárias, tratamento e emprego de varrição de ruas/praças a R$ 15/dia
Atendimentos
505 pessoas cadastradas
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RECOMEÇO (Governo do Estado)
Implantação
jan.2014
O que oferece
Acesso a tratamento e internação (se preciso); vagas de trabalho no Cratod (centro de tratamento de droga) a R$ 395/mês
Atendimentos (até abril)
6.368 internações no Cratod * e 20 mil atendimentos sociais em espaços da r. Helvétia **
*Centro de referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, na Luz
**Inaugurado em jun.2014
Fontes: Governo do Estado e Prefeitura