Folha de S. Paulo


Liberar porte de drogas vai legalizar 'cadeia de tráfico', afirma CNBB

Divulgacao-24.abr.2015/CNBB
Dom Sérgio da Rocha, presidente da CNBB, durante assembleia da entidade em Aparecida (SP), em abril deste ano
Dom Sérgio da Rocha durante assembleia da entidade em Aparecida (SP), em abril deste ano

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pediu "lucidez" no debate sobre a descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal, e afirmou que a medida vai legalizar "uma cadeia de tráfico e de comércio, sem estrutura jurídica para controlá-la".

Na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) começou a analisar o tema, mas o debate foi suspenso após pedido de vista do ministro Luiz Edson Fachin. O julgamento deve ser retomado no próximo mês.

Em nota divulgada nesta quinta-feira (27), a CNBB pondera que liberar o porte de entorpecentes vai "agravar o problema da dependência química" e facilitar a "livre circulação" de drogas no país. Contrária à mudança na legislação atual, a entidade critica o argumento de que a norma em vigor viola o direito à privacidade.

"[Liberar o porte] é algo que vai repercutir na sociedade. () Há um problema que é da saúde da prórpia pessoa, e isso de alguma forma também incide na saúde pública", afirma dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da CNBB.

"Na medida em que se libera, está se dizendo que não é um problema, não vai afetar nada e que é uma questão individual. Não, é uma questão social", reforçou o vice-presidente, dom Murilo Krieger.

Clique na infografia: Entenda a descriminalização das drogas

"SAÚDE PÚBLICA NA UTI"

Em nota sobre o atual cenário desfavorável na economia e crise política no país, a CNBB faz críticas a medidas adotadas pelo governo da presidente Dilma Rousseff. A entidade afirma que o ajuste fiscal, o gasto com a dívida pública e outras medidas "colocam a saúde pública na UTI, comprometem a qualidade da educação e inviabilizam a segurança pública".

"A realidade é dura e traz de volta situações que, por algum tempo, haviam diminuído significativamente como o desemprego, a inflação e a pobreza", afirma a conferência. Para a CNBB, há "falta de vontade política" para aprovação de reformas importantes, como a tributária e previdenciária.

A conferência afirma ainda que a corrupção se tornou uma "metástase" nos "poderes constituídos", no "mundo empresarial e no tecido social", mas pediu atenção à "estabilidade das instituições". "Garantir o estado de direito democrático é imperativo ético e político dos brasileiros, mormente dos que não viveram nem testemunharam as arbitrariedades dos tempos de exceção", diz trecho da nota.

IMPEACHMENT DE DILMA

Sem citar nomes, o secretário-geral da entidade, dom Leonardo Steiner, criticou a insistência de políticos em defender o impeachment da presidente, uma vez que até aqui não apareceram "elementos" para o afastamento.

"Há necessidade de um pouco de cautela, [de] ver se por trás do [pedido de] impeachment não há interesses político-partidários. Esse elemento é importante. () É de se perguntar se essas pessoas, inclusive políticos que estão insistindo nisso, têm real interesse no país", afirmou.


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