Folha de S. Paulo


Uber busca funcionários para expandir lobby no Brasil

Com o objetivo de expandir seu lobby pela legalização do serviço que oferece, o Uber está à procura de dois gerentes de políticas públicas no Brasil, um para trabalhar em São Paulo e outro em Brasília. O caminho é semelhante ao trilhado em outros países.

Desde o ano passado, a companhia contrata funcionários para atuar nas áreas de comunicação e de políticas públicas, setores em que busca concentrar seus esforços com o intuito de defender mudanças na legislação.

Em outubro, o Uber contratou o advogado Daniel Mangabeira Dantas para a vaga de diretor de políticas públicas –os novos funcionários devem ficar subordinados a ele. Ao lado do porta-voz da companhia, Fabio Sabba, Dantas atua em eventos públicos representando o Uber.

Na segunda (17), Dantas foi vaiado em audiência na Câmara, organizada pelo vereador José Police Neto (PSD), cujo objetivo era debater a atuação do serviço. "O Plano Diretor de São Paulo permite nossa operação", disse Dantas, na ocasião. "Nós não viemos para competir e nem tirar mercado de ninguém."

O papel dos futuros funcionários será analisar leis e projetos de lei com influência direta na atuação da empresa, a fim de determinar a melhor estratégia para que o serviço possa atuar de maneira legal. Procurado pela Folha, o Uber não quis comentar o tema.

Cargos com denominações que incluem "políticas públicas", "defesa de interesses" e "relações governamentais" são usados por empresas para eufemizar a atuação de lobistas, cuja atuação não é regulamentada no Brasil.

Isso, no entanto, não quer dizer necessariamente que os funcionários cometam crime. A concepção clássica do lobby –como nos Estados Unidos, onde é legal– diz respeito a buscar argumentos para defender, junto a parlamentares ou ao Executivo, projetos de lei que favoreçam determinado setor ou empresa.

OUTROS PAÍSES

A movimentação repete o que a empresa fez em outros mercados, como o indiano, o chinês e o australiano, com diferentes graus de sucesso. Segundo reportagem do jornal "The Wall Street Journal", o Uber mudou sua estratégia de expansão, adotando postura mais "diplomática", após sucessivos insucessos.

Os problemas regulatórios que a companhia enfrente são a principal preocupação de investidores, conforme relatou ao jornal americano Bill Gurley, sócio de uma das primeiras firmas que investiram na empresa e membro de seu conselho de administração.

O Uber possui uma diretora de políticas públicas dedicada à região de Nova Gales do Sul, na Austrália. Lá, a empresa foi alvo de mandado de busca e apreensão após lançar o UberX, serviço de baixo custo da companhia –disponível em apenas algumas cidades do Brasil, desde junho–, que compete diretamente com táxis.

Em janeiro, a cidade de Calcutá (Índia) aprovou legislação que legaliza serviços como o da companhia. A legislação define o Uber como uma "empresa de transporte em rede" ("transportation network company", em inglês), diferenciando seus motoristas de taxistas comuns. O Uber também possui um diretor de políticas públicas lá.

Editoria de Arte/Folhapress

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