Folha de S. Paulo


Viúva aos 14: Jovem grávida perde o pai do seu filho em chacina em SP

Marlene Bergamo/Folhapress
Enterro de Rodrigo Lima da Silva, morto na série de ataques da última quinta (13) em SP
Enterro de Rodrigo Lima da Silva, morto na série de ataques da última quinta (13) em SP

Foi tudo muito rápido: em agosto do ano passado, Ana (nome fictício), então com 13 anos, conheceu o namorado. Em novembro, passaram a morar juntos, na casa da mãe dele; há três meses, ela descobriu que estava grávida.

Na última quinta (13), a futura mãe virou viúva, aos 14. Rodrigo Lima da Silva, 16, levou dois tiros em uma doceria na periferia de Osasco.

Testemunhas disseram à polícia que um homem encapuzado parou um carro em frente à loja e atirou. Ele foi o mais jovem entre as 18 vítimas da chacina que ocorreu na semana passada na Grande SP.

"Fomos até o local, e ele estava caído de bruços no chão, sangrando. Ficamos lá esperando até a perícia chegar", disse Ana, no sábado (15), durante o enterro do rapaz, em um cemitério de Barueri, que faz divisa com Osasco.

BATE-PAPO

Horas antes do crime, quando voltava da casa da avó, ela havia encontrado o namorado na mesma loja de doces, na rua Professor Sud Menucci, conversando com um amigo. Trocou algumas palavras e foi para casa.

Mais tarde, a irmã de Rodrigo entrou na casa da família perguntando o paradeiro dele. Ana respondeu que havia visto o namorado na loja –e que ele deveria estar lá. Ouviu que ele havia sido baleado no estabelecimento.

Ela lembra com orgulho do companheiro. Diz que falou com Rodrigo pela primeira vez ao vê-lo na casa do primo dela. Antes do primeiro encontro, conta, o rapaz foi até a casa da mãe dela pedir autorização para o namoro.

"Mas eu já queria, eu gostava muito dele." Alegria mesmo, diz a garota, foi quando Rodrigo soube que seria pai: "Ele saiu contando para todo mundo".

O casal não tinha certeza, mas os exames pré-natal já indicavam a maior probabilidade de nascer um menino. Rodrigo tinha escolhido o nome: Felipe. Agora, para homenagear o pai, o bebê será batizado de Rodrigo Felipe.

BAIANO

O nome é uma maneira de lembrar de Rodrigo, conhecido na vizinhança como "Baiano", porque, durante a infância, deixou Osasco e foi morar no Nordeste (em Pernambuco) com uma avó.

Caçula de seis irmãos, ele parou de estudar na quarta série do ensino fundamental por causa da mudança de Estado, diz uma das irmãs, a auxiliar de crédito Fabiana, 20. Vivia com a mãe, a namorada e com Fabiana. A mãe não quis dar entrevista.

Planejava voltar a estudar em um supletivo a partir do ano que vem, conta ela. Não sabia o que fazer da vida, mas estudar direito era uma possibilidade, segundo ela, para "lutar contra injustiças".

Em paralelo, trabalhava como ajudante geral: fazia entregas na região e em cidades vizinhas com o patrão, dono de um caminhão.

Segundo a polícia, Rodrigo já cometeu um ato infracional –ou seja, foi levado às autoridades. "Não sei o que aconteceu, mas passagem pela polícia meu irmão não teve", diz Fabiana. Ele tampouco "mexeu com droga".

Rodrigo "perdeu a vida de bobeira", afirma a irmã do rapaz assassinado. "Eu só quero, se houver justiça neste mundo, que ela seja feita."


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