Folha de S. Paulo


Brasileiro não foi educado para diminuir velocidade, diz publicitário

No banco de trás de seu carro, o publicitário Washington Olivetto, 63, observa as mudanças em São Paulo.

Conduzido por um motorista –há anos, o paulistano não dirige para poder trabalhar do carro–, passa pelas marginais, vias cujas velocidades máximas foram reduzidas no mês passado e conclui: "O brasileiro e o paulista não foram educados para limites de velocidade".

Para ele, a longo prazo as pessoas vão se adaptar à redução imposta pelo prefeito Fernando Haddad (PT).

A velocidade máxima na pista expressa das marginais Pinheiros e Tietê foi reduzida, dependendo do tipo de pista, para até 50 km/h. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) entrou com uma ação contra a medida, alegando que não houve consulta à população.

Em entrevista à Folha, concedida na sua agência de publicidade, a WMcCann, na zona sul de São Paulo, Olivetto defendeu as ciclovias na cidade e disse que o Uber, serviço on-line de transporte particular, é "irreversível".

Adriano Vizoni/Folhapress
O publicitário Washington Olivetto, 63, em sua agência em São Paulo falou sobre questões da cidade
O publicitário Washington Olivetto, 63, em sua agência em São Paulo falou sobre questões da cidade

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Folha - O sr. dirige em São Paulo?
Washington Olivetto - Moro nos Jardins [bairro nobre da zona oeste]. Venho de carro para o trabalho [sua agência de publicidade, WMcCann, fica na Vila Clementino, zona sul]. Já há uns bons anos, por causa do trânsito parado, tenho um motorista, porque é uma maneira de trabalhar no carro. Já criei algumas campanhas em engarrafamentos.

Passou pelas marginais após a redução do limite de velocidade máxima?
Peguei três ou quatro vezes, mas com motorista. Praticamente não dirijo mais no Brasil. Só dirijo quando viajo, porque aí alugo automóvel, me divirto.

Percebeu alguma diferença nas marginais?
Curiosamente, muita gente não gosta e critica. O brasileiro e o paulista não foram educados para limites de velocidade. E muito menos para baixos limites de velocidade. É muito normal, por exemplo, em cidades norte-americanas, você ter desde limite de 50 milhas por hora [o equivalente a 80 km/h], de 30 milhas [48 km/h] e até de 15 milhas [24 km/h]. É muito pouquinho. E esses limites são tradicionais, as pessoas estão habituadas. Aqui, nós não tínhamos essa disciplina. A longo prazo, as pessoas vão se adaptar.

A OAB entrou com uma ação contra a redução, alegando que não houve debate com a população. O sr. concorda?
Você tem um grupo da OAB, pessoas que têm forte formação democrática que, sinceramente, julgam que um gesto desse deva ser discutido pela população. Agora, seria muito difícil, durante mandatos políticos, ter uma atitude plebiscitária em tudo, né? Se tudo tiver uma eleição, também fica complicado.

Qual é a sua avaliação das ciclovias na cidade?
São um sucesso. Eu, particularmente, gosto muito de bicicleta. São Paulo não é uma grande cidade para ciclistas, porque tem ladeiras. Mas percebo principalmente que a Paulista é um sucesso e que muitas pessoas já estão reivindicando o fechamento da Paulista aos domingos.

O sr. anda de bicicleta?
Muito raramente, mais quando passo meus finais de semana no Rio. Tenho um apartamento lá, que é uma cidade plana, aí eu ando mais.

Nunca experimentou a ciclovia em São Paulo?
Muito pouquinho, só experimentei. Mas eu observo muito.

Mas por que não usa bicicleta aqui?
Porque não tenho muita liberdade individual. Muitas coisas não dá pra fazer sozinho, aumenta o assédio, tem questões de segurança – já tive problemas nessa área [Olivetto foi vítima de um sequestro, em 2001, em que ficou 53 dias em cativeiro]. Então é mais complicado. Mas não impede que eu admire.

O sr. se sente mais seguro no Rio?
Não, é que o Rio é uma cidade mais óbvia para se andar de bicicleta. E eu aproveito essa obviedade.

O sr. é favorável ao fechamento da Paulista aos domingos?
Eu sou simpático à ideia. E acho que deve haver muita gente simpática, pelo que eu estou sentindo.

Acompanha a discussão entre os taxistas e o Uber?
Eu acompanho o Uber desde o início. Acho que fui um dos primeiros usuários de Uber em Nova York, indo trabalhar. Em princípio, gostei do Uber e ponto. Nova York é uma cidade que tem uma enorme fartura de táxis e, em alguns momentos, uma enorme falta de táxis, como em dias de chuva e dias de neve. E o Uber veio para resolver esse problema muito bem. É muito confortável e muito prático. Tem a coisa de a nota já ser debitada no seu cartão de crédito.
A primeira manifestação contra que eu ouvi do Uber foi de um amigo meu, um cara muito bem-sucedido nova-iorquino, cujo pai era motorista de táxi. E ele foi criado graças a um pai que dirigia táxi. A herança que a mãe dele teve foi uma "driver's license" [licença] que valia muito e, com a presença do Uber, vale cada vez menos. O Uber está trabalhando muito agressivamente, inclusive fazendo comparação de preço com táxis em muitas cidades. Eles estão sendo muito ágeis, muito competentes.
Estava conversando com um casal de amigos americanos que têm filhos adolescentes. Quando os filhos querem sair, tem uma conta no Uber para controlar os adolescentes, controlar a qualidade de quem está transportando e controlar para onde eles têm ido. É um serviço irreversível.

Na sua opinião, o Uber tem que ser regulamentado?
Tinha que ser discutido em cada um dos lugares. Em São Paulo, acho que a gente tem uma cooperativa de táxis muito competente. Nosso rádio-táxi é bastante bom. Eu quero ver como acontece a implantação do Uber aqui. Em princípio, gosto do Uber.

De que forma isso poderia ser discutido?
Não sei responder nesse momento. Eu tenho muita curiosidade, acho que a gente tem que ter mais informação de ambos os lados.

Clique no infográfico: Redução de velocidade nas marginais


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