Folha de S. Paulo


Estudos sobre o consumo de maconha ainda são pouco confiáveis

A maconha, como tudo que age sobre o organismo, pode ser remédio ou veneno, dependendo da dose e exatamente de qual fração dela estamos tratando.

Despindo o debate de questões sociais, o que sobra é um potencial farmacológico bruto, que pode desde desencadear esquizofrenia até mesmo melhorar a dor de um usuário.

Existem centenas de especialistas no tema. Alguns defendem o uso como não tão nocivo e até benéfico –ajudando pacientes com Aids a ganhar peso, por exemplo.

Editoria de arte/Folhapress

Para outros estudiosos, "todo cuidado é pouco": a maconha pode causar dano ao cérebro (especialmente em adolescentes) e servir como porta de entrada para outras drogas, como cocaína e crack.

O assunto é interdisciplinar: vai da segurança pública às ciências sociais. No meio do caminho, e também ligadas a essas áreas, estão a biologia e a ciência médica, que explicam os efeitos que substâncias presentes na maconha e em outras drogas podem ter no organismo.

Desses estudos saem números que podem orientar a discussão. Por exemplo: uma pesquisa recente mostrou que o uso de canabidiol por crianças que apresentem crises epilépticas reduz os eventos em 85% dos casos.

Em casos como esse, a erva e derivados podem trazer benefícios como redução de náusea e vômitos e alívio de dor crônica em pacientes com câncer e diminuição dos tiques em pessoas com síndrome de Tourette.

O problema é que a qualidade dessas evidências é baixa ou média, de acordo com revisões sistemáticas (artigos que estudam artigos). Isso significa que mais estudos (com mais pessoas) são necessários para que o uso clínico dos derivados seja "irrepreensível".

Outro ponto contra é que boa parte dos trabalhos comparam os efeitos das substâncias derivadas da maconha apenas com o placebo.

Para que elas possam ser consideradas o melhor recurso disponível, é necessária a comparação com as drogas consideradas padrão-ouro para cada problema de saúde.

Por outro lado, mesmo não sendo tão boas quanto o padrão-ouro, essas drogas podem vir a ser úteis para pacientes que não respondem bem ao primeiro tratamento.

Há casos de mortes no trânsito causadas por condutores com alta concentração de substâncias da maconha no organismo, mas praticamente não há casos de óbitos por overdose.

Existe evidência robusta de que o uso da droga aumenta a chance de desenvolver esquizofrenia em 82%. A doença afeta 1% da população.

No trato respiratório, os males viriam por conta das partículas aspiradas em cigarros sem filtro. Não há resultados conclusivos, porém.

Alguns estudos atribuem o início do uso da droga a um ambiente familiar ruim. O problema é que há fatores de confusão: doenças anteriores e nível socioeconômico. Além de pesquisas usarem amostras pequenas, esses fatores interferem negativamente na qualidade dos resultados.

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ERVA BOA?

Dronabinol:
- Combate náusea e vômitos em pacientes com HIV/Aids ou que estejam em quimioterapia

Nabiximols (extrato de maconha):
- Reduz dor em pacientes com neuropatias ou câncer
- Diminui contrações musculares dolorosas em pacientes com esclerose ou paraplegia

THC:
- Redução de tiques da síndrome de Tourette

Canabidiol:
- Diminui ansiedade e pode reduzir episódios psicóticos
- Pode reduzir crises epilépticas em crianças

Nabilona:
- Pode reduzir episódios de insônia

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ERVA MÁ?

Dano cerebral:
- O uso (mesmo esporádico) de maconha predispõe o aparecimento de esquizofrenia

Depressão:
- Estudos que testaram o extrato nabiximol contra a depressão favoreceram o placebo

Dano respiratório:
- A maconha é fumada geralmente sem filtro, e, por isso, a fumaça fica em contato com o pulmão por muito tempo, aumentando o risco de complicações, como pneumotórax
- Pode causar doença pulmonar obstrutiva-crônica
- Ainda não há associação com cânceres de pulmão e de cabeça e pescoço

Efeitos indesejados:
- Como droga recreativa ou medicamento,
pode haver efeitos colaterais em alta frequência (por exemplo: ansiedade, pânico, psicose e
até mesmo episódios depressivos)

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