Folha de S. Paulo


Polícia do Rio combate milícia em 39 condomínios Minha Casa, Minha vida

Uma força tarefa, formada por 350 policiais civis e militares, prendeu nesta sexta-feira (14) quatro suspeitos de conexão com milícias que controlam condomínios do programa Minha Casa, Minha Vida, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Os agentes estiveram nos 39 condomínios e 11 estabelecimentos comerciais que, segundo apontou a investigação, acabaram sob domínio de milicianos.

Na operação, batizada de "Alfa", os policiais passaram por endereços do Minha Casa, Minha Vida no bairros de Santa Cruz, Paciência, Sepetiba, Campo Grande, Realengo e Santíssimo.

Foram fechados escritórios de administração e distribuição ilegal de produtos. Cestas básicas e botijões de gás eram vendidos a preços abusivos aos moradores. Aqueles que se recusavam a aceitar as regras da milícia acabavam expulsos dos apartamentos.

A ação da quadrilha também se estende a distribuição ilegal de TV por assinatura e internet, transporte alternativo, negócios de prostituição e agiotagem.

Nos locais foram encontrados carros roubados, pistolas com a numeração raspada, porretes e até fardas e toucas ninjas utilizadas para coagir os beneficiários do programa do governo federal.

O delegado Alexandre Capote, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), mencionou a apreensão de documentos associados à contabilidade da quadrilha.
"O material subsidiará novas ações e permitirá provar a atuação destes criminosos, quando forem detidos. Porque o desafio não é prender, mas sim mantê-los em reclusão", disse Capote.

O nome dado a operação é uma referência a uma nova série de ações de combate à milícia. A Alfa foi coordenada pela Draco e teve apoio de Polícia Civil, Ministério Público Estadual e Corregedoria da Polícia Militar.

Um dos principais suspeitos nesta investigação é Carlos Alexandre da Silva Braga, conhecido como Carlinhos Três Pontes, apontado no inquérito como atual chefe da milícia Liga da Justiça, principal quadrilha da zona oeste do Rio.

Ex-integrante da facção criminosa Comando Vermelho, ele migrou para o lado dos milicianos quando a favela onde morava, conhecida como Três Pontes, foi dominada pelo novo grupo.

Carlinhos ascendeu na estrutura da Liga da Justiça até ganhar a confiança de Toni Ângelo de Souza Aguiar, um dos comandantes da organização, atualmente preso na penitenciária federal de Porto Velho.

Depois, foi o escolhido para substituir Marcos José Lima Gomes, o Gão, preso em agosto do ano passado. Segundo o Promotor de Justiça Luiz Ayres, responsável pelos mandados de busca e apreensão da Operação Alfa, houve uma mudança importante na forma de atuação da milícia. "Hoje, eles atuam nas sombras e se utilizam de testas de ferro, pessoas pobres desses próprios lugares, que vão presas nas operações policiais", contou.

A estratégia se aproxima daquela adotada há muito tempo pelo tráfico de drogas que, em alguns casos, já não é mais inimigo dos milicianos. Na favela do Aço (Paciência), por exemplo, as duas estruturas criminosas têm trabalhado em conjunto. "A milícia dá proteção ao tráfico em troca de uma participação nos lucros", explica Ayres.


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