Folha de S. Paulo


Libera tudo e vamos ver como fica, diz psiquiatra contra liberação de drogas

O sistema de saúde pública não suporta a legalização de mais uma droga, segundo o presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Antônio Geraldo da Silva. Para o psiquiatra, quem defende a mudança na legislação tem interesses pessoais.

O STF (Supremo Tribunal Federal) deve começar nesta quinta-feira (13) um julgamento histórico para definir se é crime ou não portar drogas para consumo próprio. O caso, que tramita desde 2011, terá efeito direto em outros 96 que aguardam posição do tribunal e consolidará um novo entendimento jurídico sobre esse tema no país.

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Folha - O senhor é a favor ou contra a descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal?
Antônio Geraldo da Silva - Sou contra qualquer facilitador de acesso a qualquer droga. Sou contrário ao acesso ao cigarro e ao álcool, é preciso deixar claro que isso não diz respeito somente à maconha. Sou médico, como posso facilitar o acesso a substâncias que causam doenças mentais? A descriminalização da maconha vai aumentar e muito o número de pessoas com transtornos mentais. Hoje, o sistema público não consegue ter espaço para atender os alcoólatras que temos. Vamos ter o uso de mais uma droga que muda a atitude das pessoas? A nossa luta é para dificultar o acesso ao álcool e jamais discutir o acesso a outra droga.

O argumento jurídico é de que a droga só afeta o usuário.
Todas as vezes que as pessoas confrontam o direito à vida com o direito à liberdade há um grave problema. Sou sempre favorável ao direito à vida porque sou médico. Nós precisamos saber quem está por trás desse lobby. Não sou ligado a laboratórios ou indústrias, sou ligado ao meu consultório.
Quem defende a legalização tem interesses pessoais, porque é usuário, ou interesses econômicos por trás. Veja a movimentação financeira que fez a maconha nos Estados Unidos. No Brasil, tínhamos 48% da população fumante. Lutamos até conseguir restringir o uso a apenas 10% da população. Quem produzia tabaco agora quer produzir a maconha. Estamos na contramão da história.

Algumas pesquisas mostram que a descriminalização não aumenta o número de usuários.
Isso não é verdade. O Brasil não comporta mais doentes. Temos 2 milhões de dependentes de maconha, libera tudo e vamos ver como vai ficar isso. Você vai entrar em um avião e vê que o comandante tem um maço de maconha no bolso. Como você vai se sentir? Você está em um centro cirúrgico, sua mãe vai entrar para a operação, o médico chega com um maço de maconha no bolso, como fica a sua tranquilidade? Tem gente que tem o absurdo de dizer que a maconha não provoca nada. Quanto estão ganhando para dizer isso?

Se legalizar, não pode haver um controle maior do que o que há hoje?
E por que no Brasil tem mais tráfico de cigarros que a venda normal? O que tem mais é cigarro importado do Paraguai. Isso é uma balela. Olha o que circula no Brasil de bebida alcoólica fora do sistema. Olha o que temos de uísque falsificado. O tráfico é enorme. Não há justificativa.
Pessoas responsáveis que defendem a saúde pública não concordam com isso. A maioria dessas pessoas atende empresários. Eu atendo famílias. A diferença é muito grande entre eu e eles. Desculpa, mas dá até antipatia de ver uma opinião dessas.

Clique na infografia: Entenda a descriminalização das drogas


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