Folha de S. Paulo


Após dez anos do furto ao BC, maior parte do dinheiro não foi recuperada

Numa abordagem de rotina no último mês de junho, policiais militares pararam Antônio Reginaldo dos Santos na zona sul de São Paulo.

Segundo a PM, ele estava muito nervoso. Descobriu-se que: 1) aquele homem estava foragido desde que no ano passado saiu da prisão no Dia dos Pais e não mais voltou; 2) suspeito de chefiar o tráfico em Paraisópolis, ele participara em 2005 do furto ao Banco Central de Fortaleza.

Antônio Reginaldo confessou ter recebido R$ 5 milhões e já ter torrado toda a quantia, de acordo com a polícia. O maior furto a banco da história do país, que na próxima quarta (5) completa dez anos, ainda rende histórias.

Assalto ao BC de Fortaleza

Na última década, 133 pessoas foram denunciadas sob suspeita de integrar o bando que surrupiou do cofre do BC no centro da capital cearense, por um túnel de 75 metros, R$ 164,8 milhões em cédulas de R$ 50 que haviam sido retiradas de circulação.

Para a ação, os ladrões alugaram uma casa onde montaram uma falsa empresa de grama sintética. A construção do túnel levou três meses. Do total de denunciados, 94 pessoas foram condenadas, 30 permanecem presas e 5 estão foragidas. Ainda serão julgados 26 réus.

Hoje corrigido, o montante equivaleria a R$ 286 milhões. A Justiça federal no Ceará estima que de R$ 30 milhões a R$ 60 milhões tenham sido recuperados.

A polícia pondera que só foi possível reaver essa quantia devido à dificuldade de rastrear as notas furtadas e pela grande quantidade de criminosos de diversos Estados envolvidos no assalto.

Parte do valor foi recuperada por meio de leilão de bens apreendidos, como uma casa com piscina em Alphaville (Grande São Paulo), de 525 m², arrematada por R$ 716 mil, em 2011, e uma casa em Riviera de São Lourenço (litoral paulista) vendida por R$ 494 mil no mesmo ano. Também foram leiloados 114 veículos e cabeças de gado.

Embora a maior parte do dinheiro não tenha voltado para o BC, a operação Toupeira, que investigou o caso, é considerada bem-sucedida.

"Em cerca de alguns meses, quase todos os envolvidos já haviam sido totalmente identificados", diz Antônio Celso dos Santos, ex-delegado da Polícia Federal que comandou as investigações.

As apurações mostraram que vários dos assaltantes eram integrantes da facção criminosa PCC. Para Roger Franchini, ex-investigador de polícia que escreveu "Toupeira - A História do Assalto ao Banco Central" (2011), o furto está ligado inclusive aos ataques do PCC em São Paulo, em 2006.

Segundo ele, policiais corruptos que achacavam bandidos começaram a pedir valores mais altos, pois sabiam que a facção tinha dinheiro.

O ex-delegado Santos diz que "quase todos os membros das quadrilhas que se juntaram para praticar o furto disseram que foram vítimas de extorsões praticadas por indivíduos se dizendo policiais". "Algumas vezes, tais fatos foram confirmados, motivo pelo qual policiais e advogados foram presos", conta.

Relatório da ONG Justiça Global em parceria com a Clínica de Direitos Humanos da Universidade Harvard, dos EUA, defende a tese de que os ataques foram motivados pelos achaques.

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OPINIÃO

Devido à grandiosidade do furto ao Banco Central, há fatos que sequer chegaram ao conhecimento da polícia e da Justiça, segundo Antonio Celso dos Santos, delegado aposentado que comandou de 2005 a 2009 as investigações.

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Folha - Qual foi a maior dificuldade nas investigações?
Antonio Celso dos Santos - Foram várias: o grande número de criminosos, o fato de o produto do crime não possuir sinal que possibilitasse sua identificação e o fato de os membros das quadrilhas serem de Estados diferentes.

Acha que muitas respostas ainda virão?
Do ponto de vista policial e judicial considero o caso encerrado com sucesso. Obviamente que, numa ação tão complexa, muitos fatos sequer chegaram ao conhecimento da polícia ou do Judiciário assim como devem ter surgido inúmeros fatos posteriores às prisões que ainda continuarão repercutindo por muito tempo.

O que impressionou o sr.?
O fato de terem permanecido tanto tempo escavando o túnel sem chamar a atenção de ninguém.


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