Folha de S. Paulo


Aeroportos aceleram ritmo de pousos para ter mais voos

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A Aeronáutica irá acelerar os pousos de aviões nos aeroportos de Guarulhos e de Brasília, os dois maiores do país em número de passageiros.

Feita em parceria com as concessionárias dos dois aeroportos, a medida pretende ampliar a capacidade das pistas e, consequentemente, reduzir atrasos e aumentar a quantidade de voos.

O primeiro a fazer as mudanças foi Guarulhos. Desde maio, os aviões prestes a aterrissar ali estão mais próximos um dos outros –a separação caiu de 12 quilômetros para 9 quilômetros na "fila" de aeronaves no ar.

Isso permitirá ao aeroporto aumentar, a partir de setembro, de 47 para 51 a quantidade de voos por hora –o que resulta em maior oferta de voos nos horários de pico, hoje cheios, afirma Miguel Dau, diretor de operações da concessionária GRU Airport.

A partir do ano que vem, está prevista uma separação ainda menor entre as aeronaves que vão pousar, de 6 quilômetros, o que elevaria a capacidade da pista para cerca de 60 voos por hora.

Mas, para chegar a isso, é preciso reduzir a menos de 50 segundos o tempo que cada avião fica na pista após pousar. Segundo a GRU Airport, a média era de 66 segundos em abril e vem caindo.

Atingir a meta exige negociação com as companhias aéreas. Se algumas não conseguirem reduzir esse tempo, a separação de 6 km não será implantada. A medida é considerada segura, desde que sejam tomados cuidados extras. Para Sérgio Quito, diretor de operações da Gol, a iniciativa é "bem-vinda", embora dependa de ajustes. A TAM afirmou que ainda avalia a questão.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Aeronaves no aeroporto de Guarulhos
Aeronaves no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo

BRASÍLIA

Em Brasília, a previsão é implantar em novembro algo inédito no país: a aterrissagem simultânea de aeronaves, usando as duas pistas paralelas do aeroporto.

Isso é possível porque o terminal tem pistas distantes 1.800 metros uma da outra; em Guarulhos, essa distância é de menos de 400 metros. Operações simultâneas exigem ao menos 760 metros de afastamento entre as pistas.

Comum nos aeroportos mais movimentados do mundo (Atlanta, San Francisco e Pequim, por exemplo), a implantação permitirá aumentar a capacidade da pista de 60 para até 80 voos por hora. Mas a ideia é usar os pousos simultâneos nos horários de pico, para evitar atrasos.

Nos dois casos, as iniciativas seguem o contrato de concessão dos aeroportos à iniciativa privada, que prevê aumento gradual de capacidade das pistas dos aeroportos.

Editoria de arte/Folhapress

SEGURANÇA DOS AVIÕES

A Aeronáutica diz que a redução da distância entre os aviões e os pousos simultâneos são procedimentos seguros e feitos de acordo com padrões internacionais do setor.

Em Guarulhos, os controladores foram treinados e participaram de simulações antes de aplicar a separação menor, diz o tenente-coronel Eduardo Miguel Soares, do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo).

Um controlador que não quer ter a identidade divulgada disse à Folha que a medida resultará em aumento de carga de trabalho, pois será necessário orientar aviões mais próximos entre si.

Para a Aeronáutica, porém, isso não será um problema. "É perfeitamente gerenciável esse aumento de carga de trabalho", diz Soares. Ele afirma que houve análise de risco e treinamento. "Não estamos inventando nada: está previsto na legislação. Antes não usávamos por falta de demanda; agora ela está aumentando."

Reduzir a separação entre aeronaves é comum em outros países, desde que seja acompanhada de ações para diminuir riscos. Por exemplo: se uma aeronave ficar muito próxima à outra perto de pousar, a que está atrás tem que abortar a aterrissagem e refazer a aproximação.

Mais: aviões de portes diferentes ficam separados um do outro a uma distância maior do que o limite máximo, para evitar a "esteira de turbulência" –que pode desestabilizar a aeronave que vem atrás e causar acidentes.

A Iata (entidade que representa empresas aéreas no mundo) diz que a redução de separação de aviões em Guarulhos poderá diminuir o número de esperas que as aeronaves fazem ao aguardar aval para pousar –e que resultam em gasto de combustível e atrasam voos.

Adriano Castanho, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, afirma não acreditar em risco à segurança de voo porque os controladores são bem treinados e tratam-se de práticas consagradas no mundo todo.

Bemildo Ferreira, diretor da Federação Brasileira de Associações de Controladores de Tráfego Aéreo, diz que elevar a capacidade em aeroportos pode causar impacto no sistema aeroportuário como um todo. "Se aumentar a capacidade de um, aumentará o volume de outros aeroportos de destino também."

Para garantir a segurança dos voos simultâneos em Brasília, a regra será a seguinte: as aeronaves poderão ficar no máximo a 800 metros uma da outra. Se essa zona de segurança for rompida, uma das aeronaves arremeterá.

Segundo a Aeronáutica e a concessionária Inframérica, a intenção é adotar a medida nos horários de pico, como o período da manhã e o final da tarde.

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